As mulheres negras no Brasil apresentaram considerável avanço em indicadores sociais, principalmente na educação básica, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, a mesma pesquisa revela que a igualdade ainda está longe nas universidades, no mercado de trabalho e na política.
A coordenadora de formação e cidadania do PSDB-Mulher do Distrito Federal, Mônica Alvares, atribuiu a baixa representação de mulheres negras à falta de capacitação e ao preconceito ainda existente na sociedade.
“Além da discriminação, esbarramos também na questão da qualificação. Apesar das negras estarem ampliando o acesso à educação básica, as brancas continuam a frente no quesito atividades complementares como, por exemplo, outros idiomas, mestrados e especializações. Isso conta muito na conquista de um cargo de destaque”, justificou.
Avanços
Uma comparação entre indicadores de 1992 e de 2016, do IBGE, comprova que a educação básica concentra grande parte das conquistas. Os mais recentes dados integram o relatório de Estatísticas de Gênero recém-divulgado pelo instituto e feito a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) contínua, com entrevistas mensais.
As pesquisas consideram negras mulheres autodeclaradas pretas e pardas. As mais positivas estão entre as crianças. Em 1992, só 77% das meninas negras em idade de ensino fundamental estavam matriculadas nessa etapa. Cerca de 25 anos depois, isso acontece com praticamente todas (97%).
O índice de analfabetismo caiu de 26% para 9% entre elas (faixa de 15 anos ou mais), pouco mais que a média nacional.
Retrocessos
Entretanto, a desigualdade se mostra mais persistente quando se refere ao nível universitário. A taxa de conclusão do ensino superior das mulheres negras, ainda era de 15% em 2006, apenas pouco maior do que a das brancas um quarto de século antes (as brancas alcançaram 32% em 2016). O indicador considera a faixa de 27 a 30 anos.
Quando questionada sobre uma solução para a disparidade entre negras e brancas, Mônica Alvares ressaltou a importância do debate na sociedade e principalmente entre as próprias mulheres.
“Nós mulheres já somos sub-representadas. O que dizer então das negras dentro desse grupo já seleto? É preciso falar sobre racismo nas escolas, nas faculdades, dentro dos partidos e incentivar a reflexão sobre esse assunto. Racismo é crime”, completou.
Para Mônica, o fator cultural ainda é muito forte no que se refere a discriminação racial e as mulheres negras têm sempre que fazer mais esforço do que as demais para se sobressaírem na sociedade.
“É preciso trabalhar a autoestima das mulheres negras. O momento é de ampliação dos espaços femininos e não podemos deixar de falar sobre o racismo entre nós. Ele existe e deve ser combatido”, concluiu.