O cenário de guerra que domina a Rocinha, na Zona Sul, do Rio de Janeiro, gera um ambiente de medo e insegurança constante na comunidade. As principais vítimas são as mulheres e crianças, alvos preferenciais das facções que disputam o poder, e que invariavelmente estão na mira dos militares das Forças Armadas, que tentam controlar a situação.
A presidente do PSDB-Mulher do Rio de Janeiro, Sebastiana Azevedo, disse estar perplexa com a situação. “O que estamos vivendo é um paradoxo porque 80% das pessoas que foram para o Rock in Rio tiveram que passar na porta da Rocinha. Tanto de metrô, como de ônibus, como de carro, todos passaram na frente da comunidade”, disse
Sebastiana Azevedo não esconde o temor pelos próximos dias. “É preciso fazer algo urgente! A rocinha tem mais de 170 mil pessoas vivendo lá. Você imagina quantas crianças e mulheres estão sofrendo. Agora, com o fim do festival, espero que as atenções se voltem para o fim desse conflito e que o Estado retome o controle da cidade traga a paz de volta”, afirmou.
A onda de tiroteios na Rocinha começou, no domingo (17), quando o chefe do tráfico de drogas no morro, Rogério Avelino da Silva – o Rogério 157 – desentendeu-se com o seu antecessor, Antonio Francisco Bonfim Lopes – o Nem -, preso desde 2011. Pelo menos uma pessoa morreu, várias deixaram a comunidade e outras tiveram a vida modificada pela ausência de transporte público e escolas.
Para Sebastiana Azevedo, crianças e mulheres são as principais vítimas. “A questão da mulher e da criança em meio a este conflito de facções é muito doída e muito difícil. Eu fico muito comovida de ver toda esta situação porque nós [mulheres] ficamos sitiadas porque temos filhos, temos trabalho e vivemos com a sensação de medo que invade nosso dia-a-dia. O temor de perder a família é algo cruel e que impacta diretamente na qualidade de vida da brasileira que mora não só na Rocinha, mas na cidade do Rio”, disse.
Horror
Segundo a presidente do PSDB-Mulher do Rio de Janeiro, o cenário é de horror. “Quem convive com a realidade do RJ não consegue descrever o tamanho horror. Por mais que a imprensa mostre, o interior dessa violência é muito mais cruel do que aparece na TV. A sensação é de impotência e a ferida causada pelo tráfico de drogas, que é a origem desta guerra, traz sequelas que muitas vezes são irreversíveis”, alertou.
Para Sebastiana Azevedo, a única alternativa é o Estado e o Poder público se unirem no combate ao tráfico de drogas na Rocinha. “Se o Estado e poder público não se unem em prol do combate ao tráfico em nada vai adiantar protestos e manifestações”, disse ela.
A tucana lembrou que há vários estudos sobre o caso específico da Rocinha. “Ela é uma das maiores favelas do Brasil, da América Latina e quem sabe do mundo. As pessoas não estão ali por opção e sim por consequência da realidade brasileira, de distribuição desigual de renda e de tantos fatores que são particulares de países em desenvolvimento”, afirmou.
Prejuízos
Sebastiana Azevedo, que conhece bem a região da Rocinha, ressaltou ainda que os prejuízos causados pela guerra de facções atinge principalmente o cotidiano das pessoas da comunidade.
“Durante os conflitos as creches não funcionam, as escolas também não. Os postos de saúde também não. É uma realidade que foge do controle da população e quem mais sofre são as mulheres e as crianças. As cariocas vivem em meio ao horror de uma guerra civil”, ressaltou a tucana.
Em seguida, Sebastiana Azevedo detalhou como funciona a vida em período de conflitos: “A lei do silêncio, a lei da reclusão e a ausência do estado é que predominam hoje no Rio de Janeiro. O Estado está literalmente ausente porque quando você chega a suspender as aulas nas escolas para mais de 7 mil crianças. O Estado abandonou a comunidade”.
Críticas
Para a presidente do PSDB-Mulher, houve um desequilíbrio de investimentos por parte do Estado, que teria aplicado recursos em excesso no Rock in Rio e esquecido de áreas menos favorecidas, como a Rocinha.
“Todo o dinheiro gasto em um festival da magnitude de um Rock in Rio faz um contraste bizarro com a morte de centenas de pessoa no morro da Rocinha. Apesar de gostar de música e trabalhar no segmento musical, é preciso pensar e equilibrar as coisas. A minoria das pessoas pode curtir o festival. A grande parte vive uma guerra, um derramamento de sangue à luz do dia”, afirmou a tucana.
Em seguida, Sebastiana Azevedo desabafou: “O olhar das autoridades, de um modo geral, é também desigual. Eu moro na Tijuca que também não está longe de sofrer com a violência. Meu bairro é rota de fuga para os bandidos que fogem do morro. Assim como eu, toda a cidade vive em estado de alerta e aflita com a iminência de uma tragédia”.