Em meio às comemorações do Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta quarta-feira (8), a presidente do PSDB-Mulher, Solange Jurema, ressalta que, apesar dos avanços conquistados pelas mulheres ao longo das últimas décadas, o caminho para a igualdade de gênero ainda é longo para que homens e mulheres tenham os mesmos diretos – no Brasil e no mundo. Em entrevista ao PSDB Nacional, a tucana conta como entrou para militância feminista, avalia as conquistas das mulheres nos últimos anos e traça os desafios do partido na luta pelo aumento da representatividade da mulher na política brasileira.
Confira abaixo a íntegra da entrevista com Solange Jurema.
Quando e como as questões feministas entraram na sua vida?
As defesas das causas femininas entraram na minha vida quando eu entrei para uma entidade chamada Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica, na década de 80. Eu sou advogada de formação e comecei a frequentar a OAB. Lá, nós tínhamos um grupo de mulheres que começou a perceber o machismo dentro da própria organização, que é uma entidade que defende os direitos humanos. Essa associação existe até hoje e é ligada a uma federação internacional que busca combater a discriminação das mulheres dentro da área jurídica. Quando eu comecei a participar desta entidade, foi que eu percebi o grau de violência que as mulheres sofrem. Até então, eu não tinha participado de nenhum movimento feminista. Na época, eu não tinha noção do grau de violência que existia contra as mulheres nem do preconceito no mercado de trabalho. Até hoje, as mulheres ganham menos que os homens em várias áreas. Imagine na década de 80. Foi nesse momento que eu comecei a me interessar pelo assunto e fui me apaixonando pela causa.
O que a mobiliza na luta pela igualdade de gênero, e qual é o seu desejo para o alcance dessa paridade?
O que me mobiliza é que nós ainda não chegamos lá. Nós conquistamos muito, sem dúvida nenhuma. O século XX será lembrado para a história da humanidade como o século das mulheres. Há muito pouco tempo, a mulher não tinha direito a nada e era submissa ao marido. Até 1962, a mulher casada tinha status de criança e considerada relativamente incapaz. Através da conquista de direitos é que você vai tomando conhecimento de como havia discriminação. Em 1988, com a Constituição, a gente conseguiu a igualdade legal. Essa conquista é muito recente. Nessa época, eu participei da luta por essa igualdade dos direitos legais. As primeiras reivindicações eram muito ligadas aos direitos. Depois da Constituição de 1988, toda a legislação brasileira teve que ser adaptada. Hoje, eu acho que a gente já está em outro patamar. O direito legal a gente já conseguiu.
Na sua opinião, qual é o maior desafio atual para as mulheres, já que o direito legal elas já conseguiram?
O maior desafio de hoje é você garantir na prática e no cotidiano o que a gente conseguiu dentro da legislação. No dia a dia, a mulher ainda sofre muita discriminação. É preciso garantir mais colaboração dos homens, garantir mais representação das mulheres nos espaços de poder. Isso faz muita diferença na priorização de algumas políticas. A questão da educação, da creche e das escolas em tempo integral é discurso de todo político, mas nunca foi prioridade nacional de fato. Essa questão afeta diretamente a vida das mulheres que precisam deixar seus filhos em segurança para trabalhar. Afeta pouco a vida dos homens. Eu acho que tem uma série de políticas que não são priorizadas porque nós temos muito poucas mulheres nos espaços de poder e nos espaços de decisão. Isso faz com que as prioridades sejam outras e não aquelas que atendem ao sexo feminino. Acredito que a ausência de políticas sociais afeta de maneira diferente a vida das mulheres e dos homens. A grande prioridade para mim hoje são as creches. Depois vêm os postos de saúde. Muitas mulheres perdem o dia de trabalho quando o filho adoece e, às vezes, perdem até o emprego porque não conseguem ser atendidas prontamente nos postos de saúde. A ausência de políticas sociais que beneficiem as mulheres é a consequência da ausência de mulheres no poder.
Qual é a função do PSDB-Mulher nessa missão?
Temos procurado fazer a capacitação das nossas gestoras intensamente. Eu acredito muito na capacitação e na discussão dos problemas em conjunto. Dessa forma, a gente fica conhecendo os problemas da diversidade brasileira. O problema de uma prefeita do interior do Amazonas não é o mesmo de uma do interior de São Paulo. Quando nós proporcionamos esses encontros com essas mulheres nós temos uma troca de experiência riquíssima e vemos que, se por um lado temos problemas que são absolutamente comuns as mulheres, por outro lado vemos que têm outros que são bem diferentes, de acordo com a diversidade regional do Brasil. A grande colaboração do PSDB nesta luta é ajudar exatamente essas mulheres a se encontrarem. Agora vamos ter um encontro de prefeitas e de vereadoras eleitas exatamente para elas terem melhor desempenho como gestoras. Com melhores gestoras, é possível dar oportunidade das tucanas terem um melhor desenvolvimento da carreira política. Por exemplo, uma prefeita do interior, se ela for uma ótima prefeita, ela pode virar uma deputada. Essas capacitações que nós temos feito ajudam elas a terem um olhar melhor de como fazer política de gênero. Melhorando a vida das mulheres, você melhora a vida da comunidade. É importante que as mulheres que entrem na política entrem com esse olhar para que, quando forem galgando outros cargos, elas levem esta experiência e essa priorização de políticas que beneficiem a vida das mulheres.
O Congresso Nacional analisa atualmente cinco projetos que preveem número de mínimo de mulheres entre os parlamentares. O principal objetivo dessas propostas é promover maior participação feminina na política. A senhora é a favor das cotas?
Eu sou a favor da aprovação de cotas para ampliar a representatividade das mulheres. Os países que conseguiram aumentar o número de mulheres na política passaram pelas cotas. Hoje, você trabalha para conquistar o direito porque é muito difícil você conseguir que alguém abra mão em nome das mulheres. Os partidos são na sua maioria masculinos, então na hora de distribuir os recursos eles dão o mínimo para as mulheres. Na hora de dar oportunidade na televisão, as mulheres também são desfavorecidas. Se as cotas forem aprovadas, que eles sejam obrigados a realmente abrir um espaço para as mulheres. Com isso, não ganham só as mulheres, ganha principalmente o Brasil. Aumentando a representatividade, teremos mais mulheres participando e aumentaremos também a possibilidade de se ter esse olhar diferenciado sobre políticas e sobre prioridades femininas dentro do poder. Isso é consolidar a democracia. Como podemos dizer que vivemos em uma democracia se nós somos maioria e hoje somos absoluta minoria nos cargos de poder? Se não tivermos uma legislação que favoreça uma igualdade, vai ser muito difícil de conseguir essa paridade. A maioria das mulheres que alcançam altos cargos o fazem as duras penas como, por exemplo, abdicar da própria família. Isso precisa mudar.
Qual é a importância da conscientização dos homens na luta pela igualdade de gênero?
Essa mudança de cultura começa na escola e dentro da família. É preciso dentro de casa tratar de maneira igual meninos e meninas e dar oportunidades iguais a eles. Isso é fundamental. Mas é preciso adotar com mais rigidez essa questão da igualdade de gênero. Falar sobre a questão de oportunidades. É preciso conscientizar as novas gerações sobre a violência contra a mulher, que os homens não têm o poder e nem o direito ao corpo da mulher, ensinar que a mulher não é uma propriedade. São pequenas coisas que, se trabalhadas na escola, podem mudar a mentalidade da nova geração.