Talvez hoje muitas não entendam o impacto desse fato histórico, visto que entre os 5 milhões de brasileiros que deixaram de votar no segundo turno da eleição passada estavam mulheres também. Porém, não podemos nunca deixar de prestigiar a luta dessas cidadãs que tiraram boa parte do seu tempo para que hoje possamos optar. Aliás, muito mais que optar, sermos inseridas no processo a fim de debater e decidir o futuro de todo o nosso país.
O que menciono é um processo lento e doloroso de igualdade de gênero que veio muito antes da década de 1930 e que em nada se compara às publicações que facilmente podem ser lidas nas redes sociais e compartilhadas por pessoas que preferem o anonimato. Nossa inclusão nessa decisão tão importante, que é o voto, foi além de queimar sutiãs como protesto em praça pública.
A discussão sobre o voto feminino chegou ao Congresso Brasileiro em 1891 e o voto só foi permitido no decreto de 1932 e ainda restringia-se às mulheres casadas, com autorização dos maridos, e às viúvas e solteiras com renda própria. Houve muita luta até que, em 1946, uma nova lei passou a prever a obrigatoriedade do voto também para as mulheres, que até então era um direito, mas não um dever.
Estamos falando de um longo período de luta, em que brasileiras se submeteram aos mais diversos sentimentos negativos que se pode sofrer, como pressão psicológica, injustiça e também dores físicas, mas que não foram obstáculos que as impedissem de ir às ruas e lutar por pessoas que nunca conhecerão ou lhe serão agradecidas. Mulheres com ideais, que na sua grande maioria foram educadas apenas para servir marido e filhos, mas que felizmente rebelaram-se e conseguiram mudar o rumo da história de todas nós.
Depois de termos o direito ao voto, conseguimos também ser “dignas” de sermos votadas, e a cada ano, a passos lentos, vamos lutando e ocupando espaços que antes apenas poderiam ser ocupados por homens.
Por isso, na data de hoje é necessário refletir e agradecer essas batalhadoras anônimas, que há muito tempo já sonhavam em intensificar o poder político nas mais diversas esferas de decisão, para influenciar nas agendas do desenvolvimento do projeto nacional que abrangessem as grandes questões sociais, econômicas, culturais, políticas e ambientais, atingindo diretamente a vida de todo o povo brasileiro.
Mulheres sem nomes ou rostos em placas comemorativas, mas consideradas cidadãs por acreditarem num ideal coletivo e que lutaram para que possamos vivenciar tudo isso.
E nós? Somos apenas mulheres beneficiadas pela luta de outras ou praticamos a tão batalhada cidadania?
* presidente do Secretariado da Mulher de Santa Catarina