Só que para cada pessoa, dane-se a média. É mais provável que tenha uma vida mais longa quem ao longo dela teve maior renda e melhor qualidade a cada dia. Por isso qualquer sistema de previdência pública parecerá ter sido feito contra os mais pobres, de menor renda, de trabalho mais pesado, e provavelmente de vida mais curta. Ainda não se inventou outra forma de cálculo que torne o sistema sustentável, além de justo. Mais: e aquele que não pôde contribuir durante a vida de trabalho, porque adoeceu ou não pode trabalhar, que trabalha no campo e não ganha salário sobre o qual calcular custo e benefício, além de outros casos de assistência social, fica sem nada depois de velho? São milhões, a quem o Estado deve proteção social. Esse mesmo estado tem um cofre gigantesco, feito de tributos e taxas da mais variada espécie, o Tesouro Nacional, e é com esse caixa que deve providenciar a proteção social. Deve calcular o quanto dos impostos vai para esse subsídio, assim como deve calcular o volume de subsídios que dá para muitas outras funções que considera relevantes, além da previdência. E propor uma reforma justa e eficiente: sustentável.
Hoje, esse estado considera que deve pagar pela previdência dos trabalhadores de vários setores, como os da micro e pequenas empresas (24,9 bi), entidades filantrópicas (12, 45 bi), desoneração da folha de 45 setores industriais (17 bi), exportação de produtos agrícolas (6 bi). Somadas, essas isenções somam R$ 62 bilhões, um terço do rombo de R$ 181 bi previsto para 2017. Sim, mas as aposentadorias têm que ser pagas, por quem paga impostos que cobrem o déficit previdenciário e outros. É justo? Traz crescimento e emprego? O orçamento público é dividido em várias partes, sendo a previdência uma delas. Se não fosse deficitária, mais dinheiro do Tesouro haveria para segurança, saúde, educação.
Como é um direito de cada pessoa, a aposentadoria tem que ser sustentável, não metam a mão, cessem os privilégios, igualem setor público e privado, que ela se sustenta. Apesar da cruel realidade da vida sobre quantos anos cada um terá, cabe lembrar que além do desequilíbrio estrutural do orçamento da previdência, o outro, o orçamento federal, deve conter esses subsídios de modo transparente – embora os que o roubam não estejam nem aí. E viva a Lava Jato, para mostrar a quanto monta o roubo, e como conseguir uma parte de volta.
*Yeda Crusius é presidente de honra do PSDB Mulher Nacional, professora universitária, economista, comunicadora, consultora. Como política ocupou os cargos de Ministra do Planejamento e, como eleita, foi Deputada Federal por três mandatos, e Governadora do RS.