Considerados o cerne das sociedades democráticas, direitos e garantias fundamentais têm sido profundamente desprezados nas práticas sociais e políticas. Passados 68 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, completos neste mês, o legado do pós-guerra, que deveria fomentar o respeito à diversidade, parece, em grande parte, desprezado pelas gerações que sucederam ao fim dos combates.
A hostilidade ainda predomina especialmente quanto aos que apresentam quaisquer diferenças, sejam biológicas, sejam culturais. A violência e a discriminação contra mulheres, pobres, negros, índios, imigrantes, homossexuais, transexuais, pessoas com deficiência e tantos outros têm regulado as relações e fomentado crimes, baseados no desprezo à paz e seus fundamentos: a vida, a dignidade e a liberdade.
Em Goiás, o ano foi marcado por assassinatos e tentativas de assassinato contra mulheres, vítimas de seus companheiros ou ex-companheiros. Uma prática secular da sociedade patriarcal brasileira, fruto da percepção de que a mulher-propriedade pode ser submetida aos piores desmandos, sem qualquer consideração ao direito de escolha.
Mais assustador é o caso do jovem Guilherme Neto, morto aos 20 anos com um tiro disparado pelo próprio pai, que suicidou em seguida. Foi em plena tarde do dia 15 de novembro, em uma das avenidas mais movimentadas de Goiânia. Segundo familiares e amigos, o pai não aceitava os ideais do filho nem as frentes nas quais o jovem militava. Ou seja, vivenciava um “amor” condicionado à obrigação de ser igual.
Nas redes sociais, multiplica-se todo tipo de discriminação, que parte especialmente dos anônimos. São inúmeros os casos de racismo, homofobia, transfobia e agressão à diversidade de pensamento. Na política, a ambição e a vaidade, muitas vezes, cegam os que legislam e administram a coisa pública em seu próprio favor, sem sequer refletir sobre os prejuízos imensuráveis aos direitos da comunidade.
Em 10 de dezembro, mais uma vez, é lembrado no mundo o Dia dos Direitos Humanos. Aos que anseiam a um novo panorama de convivência fraternal cabe o exercício cotidiano do estranhamento. Ao identificar as manifestações contrárias à dignidade, cada militante dessa causa pode exercer mecanismos simples, como diálogo, exemplo e acolhimento, buscando reacender no homem o respeito ao que ele tem de mais especial: a enorme riqueza da diversidade.
* Cristina Lopes Afonso é presidente do PSDB Mulher de Goiânia, vereadora, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Goiânia e fisioterapeuta especialista no tratamento de queimaduras.
**Publicado originalmente na edição desta segunda-feira (05) do Jornal O Popular