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“Somos todas chapecoenses, somos todas mulheres”, por Solange Jurema

Foto: Corbis Images

Foto: Corbis Images

A tragédia que vitimou o time Chapecoense na Colômbia impactou toda a sociedade brasileira e a comunidade internacional do futebol, irmanada como jamais se viu na história recente do chamado nobre esporte bretão.

O grito de guerra da Chapecoense “Vamo Vamo Chape! Vamo, Vamo Chape!” entoado pelos milhares de torcedores do time colombiano rival da final do torneio sul-americano em estádio lotado é uma cena que tocou a todos nós.

De repente se descobriu que o futebol, pode sim, ser um poderoso instrumento de solidariedade, de parceria, de amizade incondicional e de aproximação de povos e de paixões futebolísticas ao invés de um permanente foco de tensão e de brigas que por vezes levam à morte.

O desaparecimento repentino de um grupo de jovens em pleno esplendor físico e de glória profissional nos remete imediatamente ao nosso cotidiano, ao que vivemos com nossos entes queridos, com os companheiros de trabalho e, também, à situação da mulher brasileira.

Quantas de nós conhecemos estórias de agressões sem fim de mulheres amigas, conhecidas ou pelo noticiário diário da mídia. A cada dia, 13 mulheres são mortas no Brasil, como se assistíssemos indiferentes a um massacre premeditado e fossemos incapazes de evitá-lo, como não se pôde evitar a queda do avião do time catarinense.

Na Colômbia, a cada dia que passa, surgem informações de que o trágico acidente que ceifou a vida de 71 pessoas foi fruto de um acúmulo de irresponsabilidades – do piloto do avião aos agentes públicos responsáveis pela fiscalização de um plano de voo e de profissionais na torre de controladores de voos.

Como se fosse uma tragédia anunciada.

No Brasil, a situação das mulheres não é muito diferente desse tipo de trágico roteiro.

Segundo o Mapa da Violência 2015 – Homicídios de mulheres no Brasil – a taxa de mortes de mulheres do Brasil é de 4,8 mortes por 100 mil mulheres, muito mais superior do que a da Síria, em conflito há quatro anos, que é de 0,4 por 100 mil mulheres.

O aparelho de Estado brasileiro não age com o vigor necessário nas instâncias que competem a cada um deles, seja no Executivo, no Judiciário ou no Legislativo, que ainda tem a Lei da Maria da Penha quase que como única contribuição ao combate à violência contra a mulher.

O Executivo precisa definir políticas públicas claras, firmes e que sejam executadas regularmente, tanto no acolhimento às vítimas e na repressão aos agressores, que já acontece atualmente, mas também inovando, com políticas públicas de prevenção na educação que atuem desde cedo e possam reverter o quadro atual.

O Judiciário ainda atua de maneira tímida e com as dificuldades comuns a todos os processos que tramitam no sistema, com o agravante que as vezes as causas envolvendo mulheres parecem ser regularmente postergadas.

Vamos aproveitar essa imensa e bela solidariedade universal em relação aos jovens mortos no acidente aéreo de Medellín e voltar o nosso olhar para a crítica e gravíssima situação da mulher brasileira.

Afinal, na fria contabilidade dos números, a cada cinco dias “cai” um “avião’’ cheio de mulheres que perdem suas vidas pela intolerância masculina.

Vamos também ser solidários com as mulheres.

Somos todos chapecoenses,
Somos todas mulheres

*Solange Jurema é presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB

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