Segundo a mais recente previsão de safra agrícola, divulgada em novembro pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o país deverá produzir entre 211 milhões e 215 milhões de toneladas no ano-safra 2016/2017. O total representa alta entre 13% e 15% em relação à produção colhida na safra passada, a pior desde a de 2011/2012.
A produção agrícola brasileira deve ser inferior apenas às da China e dos Estados Unidos, que deverão colher 562 milhões e 550 milhões de toneladas, respectivamente, conforme o mais recente boletim do Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês), divulgado em novembro. Segundo o USDA (Departamento Americano de Agricultura, na sigla em inglês), a produção mundial de 2016/2017 será a maior já alcançada.
Os principais produtos agrícolas nacionais continuam sendo soja e milho, que respondem por 87,6% dos grãos colhidos atualmente no país. Das 184,7 milhões de toneladas das duas culturas, 98,4 milhões – o que equivale a 53,5% do total – deverão ser exportadas, ainda conforme o levantamento publicado pela Conab.
Até outubro, soja é o principal item da pauta de embarques brasileira. Considerando todos os seus derivados, responde por 15,8% do total exportado, segundo as mais recentes estatísticas mensais divulgadas pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Até 2014, a liderança coube ao minério de ferro.
A área plantada com grãos deve ser também a maior da história, com avanço de 0,3% a 2,3% em relação à última safra colhida. Confirmadas as estimativas, a produtividade agrícola brasileira dará um salto de 12,9% neste ano-safra, atingindo 3.606 quilos por hectare, também sua maior marca histórica, sempre de acordo com o órgão oficial de estatísticas do Ministério da Agricultura.
O Mato Grosso mantém-se como o maior produtor brasileiro estadual de grãos. Da potência agrícola, sairão cerca de 53 milhões de toneladas. Isso significa que o estado produz sozinho o que 22 unidades da federação produzem somadas, incluindo toda a região Sudeste, o Norte e o Nordeste brasileiros.
Entre as maiores culturas agrícolas brasileiras, a produção de soja deverá crescer até 8,5% neste ano-safra e a de milho deverá avançar até 27%, praticamente recuperando todo o terreno perdido depois da queda expressiva da safra passada em função de razões climáticas adversas, em especial a estiagem prolongada.
Neste ano-safra, a principal expansão, contudo, deve ser a da cultura de sorgo. Antes praticamente destinado à produção de ração animal, o grão tem se mostrado promissor para alimentação humana, dada a sua capacidade antioxidante, conforme pesquisas levadas a cabo pelo Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo da Embrapa. A alta pode chegar a 48%, mas a produção ainda deve ficar bem distante da máxima anotada em 2010/2011.
A agropecuária responde por 5% do PIB brasileiro, segundo os mais recentes resultados das Contas Nacionais, relativos ao terceiro trimestre, divulgados ontem pelo IBGE. No entanto, quando se considera todo o encadeamento da atividade, a chamada “porteira para fora”, a participação cresce para mais de 21% do total, segundo calcula o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo.
O agronegócio gerou superávit comercial de US$ 38 bilhões para o país entre janeiro e outubro, estimou a Confederação da Agricultura e Pecuário do Brasil (CNA). O valor equivale a praticamente a totalidade do saldo registrado pela balança comercial brasileira no período. Quatro de cada dez dólares exportados vêm do campo.
Os resultados do PIB brasileiro divulgados ontem mostram que a agropecuária foi um dos últimos setores a tombar vítima da recessão que caminha para completar seu terceiro aniversário no país. Até o início de 2015, o campo só via sua produção crescer. Desde então, o PIB agropecuário já baixou 11%, de acordo com o IBGE.
Os números da previsão de safra que ora está sendo semeada indicam, contudo, que a atividade agrícola ainda tem força para resistir à crise e ajudar os brasileiros a superar a recessão e o desemprego. Com as dificuldades por que o país passa, na economia, no Congresso, nas ruas e nas fábricas, o campo mostra que pode ser a receita do bolo.