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“Recados das urnas”, análise do ITV

urna-eletronica-300x205Para muito além do voto, o comportamento dos eleitores fornece boas pistas para quem busca exercer a boa política. Os sinais que emanam das eleições encerradas neste domingo obrigam os legisladores a procurar reconstruir o arcabouço legal que rege o processo eleitoral, o funcionamento dos partidos e a atividade parlamentar com o objetivo maior de aproximar representantes de representados.

Um dos aspectos mais ressaltados destas eleições municipais foi o alto grau de votos brancos e nulos em determinados pleitos. Em média, nos 57 municípios onde houve segundo turno, 13,2% dos que compareceram para votar optaram por estas duas alternativas. Em capitais como Rio e Belo Horizonte, o percentual ultrapassou 20%.

Associado a isso estão as abstenções, que, na média, também para este mesmo conjunto de municípios, atingiram 20,8%. Os casos mais agudos ocorreram em Ribeirão Preto (SP) e Petrópolis (RJ), ambas com pouco mais de 27%. Nestes casos, sempre podem estar embutidas distorções em função da defasagem dos cadastros da Justiça Eleitoral.

De todo modo, são ambas expressões distintas de um mesmo fenômeno: certa repulsa do eleitor ao modo como a política brasileira vem sendo realizada. Em sentido mais estrito, são um recado direto da aversão da população à forma como o país foi conduzido nos últimos anos, notadamente de repúdio à corrupção transformada em método de gestão pelos governos do PT e à malversação de recursos públicos, executada com o mesmo propósito de hegemonia política.

Neste sentido, os resultados que exprimem vitória generalizada do PSDB em 807 municípios e, também, de partidos alinhados ao novo governo, bem como a derrocada do PT e seus antigos satélites, indicam que a população cobrará dos gestores ora eleitos absoluta responsabilidade no trato da coisa pública, foco na qualidade dos serviços oferecidos ao público e absoluto zelo ético.

Os sinais que emanam das urnas vão além, contudo. A fragmentação partidária – apenas quatro das 35 legendas não elegeram prefeitos e 13 dividirão os governos das 26 capitais – não colabora para o fortalecimento da nossa democracia; antes, a fragiliza, por dificultar o debate ilustrado dos reais problemas do país: como fazê-lo com tantos, e, em muitos casos, tão pouco representativos, sentados à mesa?

Disso emerge a constatação imperativa de que a política precisa, e deve, ser reformada. Primeiro para que o voto valha e para que o eleitor eleja de fato aqueles em quem votou – isso se aplica, sobretudo, às eleições proporcionais. Segundo, para que a política represente efetivamente anseios, visões e divisões da sociedade – e não interesses, em alguns casos, quase individuais. Os resultados das urnas demonstram que o eleitor cobra mudanças. Resta a quem faz a política levá-las adiante.

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