A Revista Veja deste final de semana dedicou a capa que vem para o estado com o tema O Desastre Gaúcho, tendo um gráfico do crescimento explosivo dos homicídios desde 2010, e como fundo a foto da execução de um jovem, que completava naquele dia 18 anos, em pleno Aeroporto Salgado Filho dias antes. Realista. Chocante. Triste. A deterioração da situação do estado veio depois que a política de respeito ao dinheiro público, à Lei da Responsabilidade Fiscal, e o déficit zero com investimentos crescentes, foram implodidos pela política irresponsável e criminosa do governo Tarso Genro (2011-2014). O governo do PT não fez isso sozinho. Primeiro, foi eleito. E foi eleito em primeiro turno com o compromisso de criar novas vantagens e distribuir o dinheiro público entre as categorias privilegiadas de servidores. Nas suas ações, foi apoiado pelas corporações e sindicatos, com a aprovação unânime da Assembleia Legislativa nos aumentos impossíveis de serem honrados a não ser tirando recursos de todos os outros setores. Assim foi, e até hoje os salários são pagos parceladamente, faltando recursos para políticas essenciais em todas as áreas, principalmente saúde, educação e segurança pública.
Além da reportagem do nosso triste desastre, a Veja traz nas suas páginas amarelas entrevista com o historiador belga David van Reybrouck, que se diz totalmente favorável à democracia. Mas sua tese é que a democracia eleitoral tem que considerar a nova realidade levantada pela ascensão da mídia de massas e das redes sociais, que tornam a campanha política permanente, o que faz dos partidos políticos e das eleições tradicionais seres distantes do que quer a população. E propõe trazer a população para o centro das decisões como fez, por exemplo, a Irlanda, que para mudar a constituição no que se refere aos temas de hoje como casamento gay, idade mínima para votar, direitos das mulheres, dentre outros, criou uma comissão dedicada a rever esses pontos da Carta Magna. O grupo foi composto pelo Presidente, 33 políticos eleitos, e 66 cidadãos sorteados segundo a amostra da população. Trabalharam meses, propuseram, e submeteram à população, que aprovou as mudanças.
Ora, fizemos isso no nosso governo, trazendo instituição de universidade estrangeira especializada em Democracia Deliberativa, que inclusive já havia feito o trabalho de discutir entre os cidadãos europeus a formação da União Europeia, e uma nova matriz energética na Alemanha. Bingo, lá deu. Aqui trabalhamos fazendo o sorteio, reunindo em todo o estado para discutir o principal entrave para um sistema mais justo e eficiente de remuneração aos servidores de carreira. Os incomodados com a ampliação da democracia que praticávamos, sindicatos e movimentos políticos radicais, invadiram a PUC onde se realizavam as discussões finais, acompanhadas pela imprensa livre. Não levaram, completamos o trabalho. Mas não levou também a população, que elegeu o oposto logo em seguida e adiou a necessária reforma, que quem sabe algum dia se faça. Falta definir como sair da prisão das velhas corporações para aquilo que a população quer. Ou, parcelar salários para sempre…
*Yeda Crusius é presidente de honra do PSDB Mulher Nacional, economista e política brasileira. Foi Ministra do Planejamento, deputada federal pelo estado do Rio Grande do Sul e primeira Governadora do estado.
**Publicado originalmente na edição desta segunda-feira (26) do blog gaúcho Rede de Opinião