Daqui ou dali, de Norte a Sul, no Sudeste, do Nordeste ao Centro Oeste, o Brasil coleciona cenas horripilantes como estupros coletivos de adolescentes no Rio, Piauí e Brasília, a capital de todos os brasileiros que está se tornando uma triste e trágica referência desta realidade.
É de Brasília que vem outro fato chocante e mesmo aterrorizante: um menino de 11 anos foi degolado e queimado por um colega de 14 anos por causa de um vídeo game. Isso mesmo, um vídeo game!
É inacreditável saber desses e outros fatos – como o assassinato a pedradas de um menino homossexual de 14 anos no Espírito Santo – e perceber a impotência do Estado brasileiro em criar condições mínimas de educação, de formação dos jovens brasileiros.
A barbárie destes e tantos outros atos nos revelam a banalidade da vida para um segmento brasileiro. Um vídeo game não pode nunca valer mais do que o futuro de uma criança. A intolerância à homossexualidade não pode ceifar a vida de um adolescente em formação, com tanto a viver.
A indignação que chega às redes sociais com a repercussão destas mortes convive, por exemplo, com a solidariedade revelada a alguns animais, por mais absurdo que isso pareça ao comportamento e ao bom senso humano.
O site Metrópoles, de Brasília, registrou que em sua página em uma das redes sociais, uma campanha de apoio a um cão ganhou mais curtidas do que o relato da morte do menino por causa de um vídeo game.
É uma inaceitável reversão de valores.
Temos que nos mobilizar, discutir as razões, os porquês de tanta barbaridade, tanta alienação, de tanta banalidade no cotidiano do brasileiro.
E não podemos deixar de indignar com isso, de repelir, de protestar contra a intolerância, os abusos sexuais, a violência descabida.
O tecido esgarçado da sociedade brasileira está doente e precisa, urgentemente, de um diagnóstico preciso e de uma rápida resposta do Estado e de todos os segmentos responsáveis da sociedade brasileira.
*Solange Jurema é presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB