Não costumo escrever, genericamente, sobre a política nacional. Exceto quando for para um discernimento, para um pensar ou olhar diferençado sobre o atual estado do país.
Muito menos separar por gêneros, o Brasilês, na política.
Mas nas últimas duas semanas, principalmente, após o presidente provisório assumir o posto no executivo, ouvimos diversas frases desconexas sobre a participação da mulher no governo.
A participação de qualquer ser na política nacional está, literalmente, atada aos acordos partidários que tomam conta do congresso nacional. E não como pensamos que poderia ser. Como por exemplo por competência ou outras finalidades.
Mas porque todo este preâmbulo?
Vamos começar pela parte feminina dos partidos.
Esta semana a indicação do nome da presidente do PSDB Mulher Nacional, Solange Jurema, para presidir a Secretaria de Políticas para Mulheres, saiu de uma reunião entre os segmentos femininos de dois partidos: PPS e o próprio PSDB Mulher, que aconteceu na última quarta-feira (18). Entretanto ganhou vida própria nos últimos dias, com o apoio declarado de pessoas de todas as classes, partidos, ideias e profissões.
Por que Solange?
Estou fazendo propaganda e tomando partido por Solange?
Não é bem assim. Vamos ver as competências primeiro e…
Vamos ver quem é Solange.
Solange Bentes Jurema, que parece de repente unir todas as tribos em torno de seu nome e por que razão é tão importante que seja ela e mais ninguém a presidir a SPM, neste momento em que o Brasil enfrenta uma das maiores crises políticas, econômicas e morais que jamais viveu?
Exatamente por isso! Não dá para errar em uma hora dessas e Solange tem a experiência de quem passou a vida lutando pelos direitos da mulher e pelas comunidades em situação de risco. Solange, que sempre pautou sua vida profissional pela preocupação com o universo feminino, foi presidente da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica (ABMCJ); esteve à frente do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher; foi presidente pró-tempore da Reunião Especializada da Mulher do Grupo Mercado Comum, Mercosul (REM). Em 2002, assumiu a Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher no governo Fernando Henrique Cardoso; mais uma vez pioneira, foi a primeira ministra da Mulher no Brasil.
Procuradora de Estado aposentada, Solange Jurema usou sua vasta experiência em gestão pública a serviço de Alagoas, ocupando a Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social no governo Teotônio Vilela, entre 2007 e 2010. Foi secretária Municipal do Trabalho, Economia Solidária e Abastecimento da prefeitura de Maceió, na gestão de Rui Palmeira (PSDB). Mais do que um belo currículo, o que chama a atenção em Solange Jurema é o entusiasmo, o brilho nos olhos quando ela descreve o projeto em gestação no momento. A felicidade com que conta a história de uma comunidade paupérrima que teve seu cotidiano transformado a partir do cultivo e processamento de um tipo específico de pimenta.
Porque é isso o que diferencia Solange Jurema de uma burocrata; o entusiasmo. A paixão que ela emprega na transformação da vida da comunidade pobre a partir do cultivo da pimenta é a mesma que usa na proteção de mulheres em situação de risco.
Ouvir Solange falar sobre um grupo de mulheres donas de casa, que dependia financeiramente dos maridos, sem perspectiva alguma de melhorar suas vidas e foi resgatado por sua Secretaria Municipal, através de um programa de mulheres rendeiras que, hoje, vende para boutiques do país inteiro, é entendê-la melhor do que qualquer texto conseguiria explicar.
Talvez seja por isso que os apoios não param de chegar, quem sabe é essa a razão que faça de Solange Jurema a mulher certa para estar à frente da Secretaria de Políticas para Mulheres. Depois de treze anos, quatros meses e doze dias ouvindo mentiras e números falsos, estamos frente a uma mulher que não enxerga números e sim pessoas, mulheres que precisam de sua ajuda, de políticas públicas efetivas. Que já fez, ao presidir o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e a própria SPM. Está pronta.
Enquanto escrevo esta crônica, Brasília, a cidade em que os boatos das quintas-feiras invadiram a semana inteira, dão como certa a nomeação de outra candidata para presidir a SPM. Tudo é possível, em tempos de idas e vindas, de nomeações tão disparatadas que algumas vezes até se pode pensar que o governo do presidente Temer não consulta o Google, para ver se a pessoa indicada tem realmente identificação com o cargo pretendido, ou um currículo imaculado, que o preserve de constrangimentos futuros.
Secretaria de Políticas para Mulheres não é um órgão de importância secundária, para ser loteado em função de interesses políticos de ocasião. Dela dependem mulheres que foram estupradas e não têm mais a quem recorrer; vítimas de violência doméstica; mulheres em situação de risco; comunidades femininas inteiras esperando que alguém as enxergue, as resgate, lhes devolva orgulho e cidadania.
Lutou-se por 13 anos, 4 meses e 12 dias contra o arbítrio dos governos petistas, houve apoio ao presidente Michel Temer com o desespero dos que sabem que precisa dar certo, que o tempo está se esgotando e não há contemplação para quem se cerca de pessoas com passado duvidoso, para dizer o mínimo. Não abra outro flanco de desgaste em sua administração, a Secretaria de Políticas para Mulheres merece respeito.
Agora que os fatos ficam um pouco mais elucidativos. Pense…. Não dói!
Mas a participação nossa, independente de gênero hoje, requer sobretudo uma postura e um caráter à altura de qualquer cargo…. Em qualquer lugar…. De qualquer espécie.
Simples assim.
*Publicado originalmente no Blog Sala de Protheus no dia 25 de maio
** José Carlos Bortolotti é Brasilês, Jornalista, prof, de Comunicação, Consultor de Marketing e Planejamento Estratégico puro, Articulista, Cronista, Fã de Filosofia, Psicanalise e de Gente que Pensa…