Além disso, um estudo feito pelo Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (Ilumina), realizado a pedido do jornal O Globo, revela que o Brasil, dentre 23 nações analisadas, é o país em que um trabalhador que ganha salário mínimo precisa trabalhar mais horas para pagar 100 Kwh de energia. Um outro levantamento, também publicado pelo jornal carioca, mostra que a conta de luz brasileira é a que mais pesa no bolso de quem ganha um salário mínimo, com uma fatia de 18,5% dos vencimentos do trabalhador sendo destinada para o pagamento da conta de luz. O Brasil é também o país em que os impostos representam a maior parte do valor da energia elétrica, com 28% para quem consume até 300 Kwh por mês até 46% para quem usa níveis superiores a esse volume.
Para Adriano Pires, economista e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), a propaganda do governo que exalta a suposta redução da tarifa de luz é enganosa e faz parte de um discurso populista adotado pela presidência da República. “Acho que o governo, mais uma vez, está fazendo uma propaganda enganosa. Está anunciando uma redução de tarifa quando não deveria reduzir, porque ainda está com problemas de reservatórios e tem muita conta para pagar”, destacou.
Pires citou o que ele apresenta como uma das principais falhas do governo do PT na condução da política energética. “Lá em 2012, o governo editou a Medida Provisória 579, que causou uma total bagunça regulatória e jurídica no setor de energia elétrica no Brasil e, dentre outras coisas, provocou um rombo bilionário. O Tesouro teve que pagar, as distribuidoras tiveram que pedir dinheiro emprestado, as geradoras tiveram que pagar conta, então criou-se um rombo de mais de 100 bilhões. Isso tudo foi feito para o quê? Para enganar a população. Depois que Dilma ganhou a eleição, ela foi obrigada a fazer um tarifaço, em janeiro de 2015, quando a tarifa de energia cresceu, em média, segundo o IBGE, mais de 50% no Brasil todo, e dependendo da classe de consumidor, até mais de 100%. Agora, como ela está no centro de um processo de impeachment, ela está, outra vez, querendo construir uma agenda positiva através de propaganda enganosa, de populismo”, disparou Pires, doutor em Economia Industrial pela Universidade Paris XIII.
Na propaganda veiculada, o governo cita o aumento das chuvas – que recuperou o nível dos reservatórios -, a construção de novas usinas de energia renovável e o combate ao desperdício entre os principais fatores que possibilitaram a adoção da bandeira verde. Para Adriano Pires, os argumentos usados não encontram eco na realidade.
“A única verdade é que choveu, mais até no Sudeste do que no Nordeste, mas não houve um aumento na oferta de energia. As pessoas estão economizando não porque foram conscientizadas, mas porque elas estão desempregadas e a indústria não cresce, então se consome menos. No caso das residências, a inadimplência aumentou muito e o roubo de energia também, as pessoas não têm como pagar a conta, que é muito alta”, destacou. “O governo agora está diminuindo a tarifa para tentar melhorar a imagem dele”, completou Pires.