Deliberadamente, Dilma confunde o impeachment com o regime de exceção da ditadura. Diz sentir-se “torturada” pela derrota imposta pelo voto de 367 deputados assim como o foi no seu passado de militante política. Afirma ver no processo atual, em que seu afastamento corre dentro dos estritos limites da Constituição, as mesmas características presentes num golpe de Estado.
Para começar, o passado de Dilma não é de democrata. Sua militância durante o regime militar sempre foi nas mais radicais células de combate revolucionário, devotadas a defender um regime ditatorial de esquerda nos moldes cubanos no Brasil.
Enquanto Dilma lutava nesta seara, muitos outros buscavam combater a ditadura pelas vias pacíficas. Foram estes, e não Dilma e seus grupelhos parceiros de luta armada, que ajudaram o país a reconquistar as liberdades. Dilma não estava lá.
Quantos dos muitos que também foram torturados e perseguidos pela ditadura militar, mas escolheram combater o regime com as armas da não violência, poderiam hoje ainda estar aí referindo-se ao passado como seu mais valioso ativo político, como faz a petista? Mas não, viraram a página e foram à luta construir um país melhor dentro dos limites institucionais reconquistados 30 anos atrás. Dilma ainda está parada lá.
Neste melancólico fim de feira, agora aliada aos mesmos que combateu no passado, a petista dedica-se apenas a cumprir um script que dê um final menos trágico ao “coração valente” que venceu duas eleições na base da fraude, locupletando-se da grossa corrupção que ela, omissa e conivente, deixou prosperar no interior do aparelho estatal petista.
Dilma aferra-se ao passado porque não tem um presente com que se defender.
Não é capaz de uma menção ou autocrítica à situação ruinosa a que conduziu o país, na contramão de um mundo que, na pior das hipóteses, caminha neste momento na esteira da estabilidade – e, em muitos casos, experimenta franca expansão. Fez ontem, aliás, o contrário: mais uma vez culpou seus opositores por “não permitirem que eu tenha, nos últimos 15 meses, governado em um clima de estabilidade política”. Não é uma graça?
Dilma fez questão de usar o pronunciamento que serviu como o primeiro réquiem de seu governo para prometer “lutar até o fim”. Deveria fazer diferente: deveria deixar no passado o figurino guerrilheiro que insiste em envergar, transcorridos todos estes anos, deveria depor as armas e abster-se de tumultuar a transição para um tempo em que a ela restará um lugar cativo no lixo da história.