Nos palanques, em atos oficiais e mesmo nas peças legais que deveriam servir para a defesa da petista no processo de impeachment, a narrativa oficial espanca a realidade, nega o óbvio e tenta, sobretudo, enganar a opinião pública. Às favas com os fatos, porque o que lhes interessa é vencer a guerra, custe o que custar.
Foi assim, por exemplo, na defesa que o advogado-geral da União fez de Dilma ontem perante a comissão do impeachment na Câmara. Funcionário público pago pelo povo, José Eduardo Cardozo foi ao Congresso fazer proselitismo político. Limitou-se a repetir o discurso do “golpe” e a forjar supostos desvios em liames processuais. O mérito das denúncias que pesam contra a presidente, ele preferiu ignorar.
Provavelmente, Cardozo não teria como negar que Dilma manipulou o Orçamento da União para enganar a população e buscar um novo mandato. Também não teria como sustentar que as pedaladas fiscais serviram para bancar programas sociais, quando até oficialmente o governo já admitiu que foram usadas em empréstimos a grandes empresas. Das omissões da petista no esquema de corrupção na Petrobras, ele nem passou perto.
Enganosa também é a peroração de Lula, dia sim, dia também, pelo país afora pregando que as supostas conquistas dos governos do PT estarão em risco em caso de impeachment de Dilma. Parece referir-se, como é seu costume, a uma realidade virtual, no mesmo momento em que a recessão econômica se encarrega de jogar milhões de famílias brasileiras no desemprego e na pobreza.
No Nordeste, o ex-presidente chegou ao caradurismo de dizer que a região deve a ele por “projetos estruturantes” realizados nos seus oito anos de governo. Deve estar se referindo, talvez, à bilionária e inconclusa refinaria Abreu e Lima em Pernambuco, uma das fontes do petrolão, ou, quem sabe, à nunca terminada transposição do rio São Francisco.
Dilma, por sua vez, não deixa por menos. No Palácio do Planalto, dedica-se, igualmente dia sim, dia também, a atos panfletários e à repartição do que sobrou de seu governo, na forma de butim. Sem nenhum pudor, transformou educação, saúde e o que mais houver à mão em moeda de troca no jogo da baixa política. O governo “popular”, “progressista” e “de esquerda” só mantém esperança de sobreviver nas mãos do pior fisiologismo.
Na bacia das almas, em clima de fim de feira, governo e PT atuam como se não houvesse amanhã. Mas, no Brasil real, há pelo menos 140 milhões de cidadãos ciosos do destino que aguarda a nação, sedentos por mudança e horrorizados em ver o país estraçalhado nas mãos dos petistas. A maioria somos os que queremos o impeachment de Dilma Rousseff. Quem deve se sentir acuado são eles, a ruidosa minoria, não nós.