– Hoje é Dia Internacional da Mulher. Do que as mulheres devem ter mais orgulho de comemorar neste 8 de Março?
As conquistas que já tivemos no decorrer do século XX, que foram muitas. Tivemos desde o direito de votar, de falar, de trabalhar e o direito a direitos também, garantido após a Constituição de 1988. Agora ainda temos muito que conquistar, sem nenhuma dúvida.
– O Brasil amarga uma das piores colocações no ranking mundial de presença feminina no Parlamento, segundo o último boletim da União Interparlamentar. Pouco mais de 10% da Câmara é composta por deputadas, enquanto somente 13% dos assentos no Senado são de mulheres. Na lista, o país ficou atrás até mesmo de países do Oriente Médio. Quais as razões para essa representação tão baixa das mulheres no Congresso Nacional brasileiro?
A primeira dificuldade é dentro dos próprios partidos. Os partidos não privilegiam a candidatura de mulheres. É sempre difícil as mulheres serem candidatas e, quando são, terem recursos e apoio para serem eleitas. A segunda barreira é que nós não temos escolas em tempo integral, os postos de saúde funcionam mal, então as mulheres perdem muito tempo quando levam os filhos aos postos de saúde, a mobilidade urbana no Brasil ainda é muito complicada. Então quem perde maior tempo e quem é mais prejudicada com essa ausência de políticas sociais são as mulheres. Ela que deixa de trabalhar porque não tem onde deixar o seu filho, ela que deixa de trabalhar quando o filho adoece para levar o filho no posto de saúde, onde é mal atendida. Nós temos que nos dividir entre a casa, a família, o trabalho voluntário de um país que não funciona bem com as suas políticas sociais. E isso tudo são barreiras no tempo delas para se dedicar à política. A gente tem que vencer muitas barreiras para poder estar no Parlamento.
– De que forma esse baixo número de mulheres no Parlamento afeta a vida de todas as cidadãs do País?
Se ainda tem poucas mulheres nesse espaço de poder, onde se votam as leis, onde se tomam as decisões de quais são as políticas prioritárias, então é claro que as mulheres têm dificuldades de impor o que é melhor para elas. Então, estabelecer prioridades, estabelecer legislação que favoreça as mulheres, isso tudo tem sido arrancado à fórceps dentro do Parlamento.
– O mercado de trabalho também é muito injusto com as mulheres. Mesmo com maior escolaridade, elas recebem, em média, 26% menos que os homens no desempenho das mesmas funções, segundo o IBGE. Até que ponto a política e a presença das mulheres no Congresso pode ajudar a corrigir esse abismo salarial e outras injustiças sociais?
É fundamental que as mulheres participem mais desses espaços públicos para que a gente possa reverter essa desigualdade. Infelizmente, nas empresas há a questão da maternidade, que preferem dar os cargos de chefia para homens e tem a própria questão cultural de que a mulher não precisa ganhar tanto porque o trabalho dela é complementar. No entanto, isso não é verdade, porque 40% das famílias são chefiadas por mulheres. Então existe ainda uma concepção cultural que faz com que as mulheres ganhem menos.
– Quais as propostas do PSDB Mulher para diminuir essas desigualdades?
Vamos trabalhar intensamente esse ano para eleger mais mulheres vereadoras e prefeitas. Para isso, já estamos mobilizando as mulheres, fazendo cursos. Vamos trabalhar para exigir que pelo menos a cota de 5% seja respeitada, ou seja, que os partidos – não só o PSDB, mas os outros partidos – sejam fiscalizados, se estão cumprindo a cota de 30% de candidaturas e se estão cumprindo a cota de 5% do fundo partidário para que as mulheres possam ter mais oportunidades nessa próxima eleição. E, com isso, a gente quer ir construindo uma base para que possamos, no futuro, ter mais mulheres não só vereadoras e prefeitas, mas deputadas, senadoras e governadoras.
– A violência contra a mulher tem também assustado as brasileiras. Os relatos de violência sexual aumentaram 129% em 2015 na Central de Atendimento à Mulher, o “Ligue 180”. O que se pode fazer para mudar essa realidade?
Hoje a gente não tem nenhuma política de prevenção. As poucas políticas que existem com relação à violência são de atendimento à vítima, que são as delegacias, que são os abrigos. Enquanto a gente não fortalecer mais as mulheres e, principalmente, enquanto a gente não trabalhar mais essa cultura que faz com que os homens se sintam donos dos corpos das mulheres, a gente não vai diminuir essa violência, porque a violência contra as mulheres tem uma base cultural. Como é uma questão cultural, ela precisa ser trabalhada fortemente dentro de casa, nas escolas, em todos os lugares para que os meninos cresçam vendo as mulheres de uma outra forma, menos machista.