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Pesquisadores acham vírus zika em cérebro de bebês

Foto: EBC

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Descoberta reforça a tese de problemas congênitos

POR ANA LÚCIA AZEVEDO

14/02/2016 21:36 / ATUALIZADO 15/02/2016 15:43

“O zika nas Américas é uma história em desenvolvimento”, diz o virologista Amílcar Tanuri, da UFRJ, um dos maiores especialistas em genética de vírus do Brasil. É uma história triste. Faz parte dela a descoberta no fim de semana do zika no cérebro de dois bebês, um deles com microcefalia e o outro com uma devastadora malformação cerebral. Eles morreram logo após nascer. Foram infectados quando as mães estavam por volta da 18ª semana de gestação. E o vírus permaneceu com eles o tempo todo até o nascimento.

Essa é a primeira vez que se mostra o impacto direto do zika sobre o cérebro de bebês no Brasil, o que reforça a tese de problemas congênitos registrados em bebês de mães que tiveram a doença. A pesquisa toda desenvolvida aqui é básica para descobrir como o vírus causa danos e, assim, poder combatê-lo. O poder do zika se alimenta, em parte, do desconhecimento. Ninguém sabe como um micro-organismo sem importância se transformou num inimigo letal.

— Pobres desses bebês — lamenta Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ.

Estudo pioneiro

A gestação das crianças foi acompanhada pela obstetra e cientista Adriana Melo, do Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto, em Campina Grande, na Paraíba. Ela agradece às mães.

— Não pudemos fazer nada pelos filhos delas. A medicina não tem ainda como oferecer ajuda. Essas moças tiveram zika.
Souberam que os fetos tinham sido atingidos. E perderam suas crianças. Essas mulheres tiveram uma grandeza enorme. Doaram os filhos para que outras mães do Brasil não sofressem o que elas e seus bebês sofreram – afirma Adriana.

As moças voltaram para suas casas em municípios pobres do sertão da Paraíba, onde o mosquito continua a infestar as valas de esgoto a céu aberto.

O estudo pioneiro ainda está em curso. É realizado pelo grupo integrado por Adriana Melo; Amílcar Tanuri; Patrícia Garcez, do Laboratório de Neuroplasticidade da UFRJ e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino; Ana Bispo, do Laboratório de Flavivírus da Fiocruz; e Loraine Campanati de Andrade, do Laboratório de Morfogênese Celular da UFRJ.

Tanuri supõe que uma das chaves para o zika afetar tecidos dos fetos e continuar ativo nos bebês até o nascimento é um mecanismo que a ciência chama de reativação.

A gestante contrai o zika e ele não só atravessa a placenta e chega ao feto, quanto se oculta nas células de mãe e filho. Semanas após a manifestação dos primeiros sintomas, como dores e erupções na pele, a mãe sente “a volta do zika”. Tem de novo dores e outros sintomas. Algumas das mães de bebês com microcefalia relataram ter tido zika duas vezes. O pesquisador observa que, mesmo que a mãe não apresente sintomas de “uma segunda zika”, o feto pode continuar a sofrer.

— Não acredito em reinfecção, isto é, que alguém contraia a infecção pelo vírus duas vezes. O mais provável é que o zika fique o tempo todo lá e seja reativado após algum tempo. Como ele faz isso, ainda não sabemos, mas corremos contra o relógio para descobrir. Essa reativação pode explicar os extensos danos neurológicos e em outros tecidos do corpo que temos visto em fetos — salienta Tanuri.

A urgência dá o ritmo do trabalho dos cientistas, que têm passado noites em claro, sem descanso. A neurocientista Patrícia Garcez, uma das raras especialistas em microcefalia do país, não poupou esforços em sentido literal. Foi buscar na quinta-feira em Campina Grande as amostras de tecidos dos bebês doados pelas mães à pesquisa. Chegou de tarde à Paraíba e na manhã seguinte já estava em seu laboratório no Rio.

— Compreender a relação entre o zika e os distúrbios neurológicos é algo extremamente complexo. Demanda muito estudo e estudos que costumam ser demorados. Mas o zika é uma emergência. Então, desafiamos o tempo — diz ela.

Tanuri salienta que investigar a possível capacidade de reativação do zika é uma das emergências:

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