Nesta manhã, o IBGE divulgou os resultados da inflação em janeiro. O ano começou doloroso para os brasileiros, com o registro da maior taxa para o mês desde 2003, ou seja, em 13 anos. O IPCA fechou em 1,27%, acima de todos os prognósticos. Péssimo começo.
Em sua edição de ontem, o Valor Econômico havia publicado a expectativa para a inflação de janeiro segundo as previsões de 22 consultorias e instituições financeiras. Na média, esperavam índice de 1,1% e nenhuma antevia taxa superior a 1,20% – a Bloomberg e a Agência Estado haviam chegado às mesmas conclusões.
A realidade mostrou-se novamente mais absurda do que qualquer bola de cristal é capaz de captar.
Em janeiro, a inflação subiu em relação a dezembro último (0,96%), subiu na comparação com janeiro do ano passado (1,24%) e subiu no acumulado em 12 meses, agora para 10,71%. É recorde atrás de recorde. Porto Alegre, Fortaleza e Curitiba já têm inflação anual próxima ou acima de 12%.
Não são supérfluos os itens que mais pesam no bolso do brasileiro. Alimentos, bebidas, transportes (bilhetes de ônibus e combustíveis) e habitação foram os principais responsáveis pela alta da inflação no mês. A este respeito, vale reproduzir trecho da nota à imprensa publicada há pouco pelo IBGE.
“Desde dezembro de 2002, quando o grupo Alimentação e Bebidas atingiu 3,91%, não havia registro de taxa mais elevada do que os 2,28% deste mês. Considerando os últimos 12 meses, os preços dos alimentos registram aumento de 12,90%. No mês, na região metropolitana de Vitória e de Salvador e em Goiânia, o aumento dos alimentos chegou a 3,66%, 3,60% e 3,22%, respectivamente.” Socorro!
Se algum tempo atrás, a inflação era do tomate, agora é da cesta básica toda. Cenoura, tomate, cebola, batata e alho subiram mais de 10% num único mês – e sem nenhuma seca ou chuva brava que pudesse justificar uma escalada de preços. Os aumentos são disseminados: 77% dos 382 itens pesquisados pelo IBGE ficaram mais caros em relação a dezembro.
Quem sofre mais é quem menos tem. O INPC, índice que mede a inflação de famílias de menor renda (até cinco salários mínimos), veio ainda mais alto, batendo em 1,51% no mês e em 11,31% no acumulado em um ano.
Reflexo direto do aperto no bolso, os saques nas cadernetas de poupança nunca foram tão altos: num único mês, as retiradas superaram os depósitos em R$ 12 bilhões. Desde janeiro do ano passado, tem sido assim – dezembro último foi a única exceção – com um rombo acumulado de R$ 65,6 bilhões. Sobra mês para pouco salário.
Durante a campanha em que se reelegeu, Dilma Rousseff não cansou de afirmar que a inflação brasileira estava “sob controle” no país. Já reeleita, assegurou que “manteremos o controle da inflação como prioridade da gestão macroeconômica”. Na mensagem que enviou na terça-feira ao Congresso, avisou que agora a inflação “deve ceder”.
Desde 2010 o país não cumpre a meta de inflação e tudo indica que não deverá conseguir cumpri-la antes do fim da década. Com a recente decisão do Banco Central de não mexer nas taxas de juros, as expectativas quanto a isso pioraram, agravadas por anos de manipulação. É mais uma obra do bloco Unidos da Inflação. O poder de compra da palavra da presidente da República tornou-se nulo; Dilma Rousseff é uma moeda altamente desvalorizada.