O que parecia distante, sofrido e alcançável apenas em sonhos começa a acontecer perante nossos olhos incrédulos. Confesso que mesmo eu, calejada por haver testemunhado tantos momentos históricos, como a Campanha das Diretas Já; o impeachment de Collor e a criação do Plano Real; não me preparei para a grandiosidade da onda democrática que agora mesmo, enquanto escrevo, varre, lava e purifica o nosso continente, exaurido pela ganância do populismo de quem dele se apoderou em proveito próprio.
O vento nasceu como brisa em terras argentinas, com a vitória de Macri sobre a dinastia kirchnerista há 12 anos no poder. Os argentinos – mesmo sabendo que reconstruir seu país em frangalhos, depois da gestão desastrosa de Cristina Kirchner, não será fácil -, comemoraram o fim de um pesadelo. 23 de novembro será para eles um marco, o momento em que a utopia virou realidade.
Para nós, os demais povos latino-americanos, a data ficará na memória como o dia em que se acendeu a primeira lamparina pela liberdade no continente. “Quem será o próximo?”; Sussurraram entre si as redes sociais, fazendo apostas.
No dia 02 de novembro, no Congresso Nacional, a brisa virou ventania e os brasileiros acenderam a segunda lamparina pela liberdade e a democracia na América Latina. E fizeram o mundo olhar para o que acontecia por aqui com mais atenção.
Não vou entrar em uma discussão que considero vencida, sobre a legalidade do impeachment, fico com a opinião de intelectuais como Miguel Reale Jr, Hélio Bicudo e a querida Rosiska Darcy de Oliveira: o Brasil precisa de mudanças que o tirem da paralisia administrativa e da descida ao fundo do poço em que se encontra, não do medo do novo.
O domingo (06) nasceu com apreensão e nervosismo para nossos irmãos venezuelanos, que vêm pagando com a vida ou atrás das grades pelo direito de discordar da ditadura bolivariana em que se transformou o regime. Não havia quem pudesse antecipar o que aconteceria até o anoitecer. Sabia-se das ameaças de banho de sangue, caso a oposição vencesse, falava-se de crime eleitoral, de observadores internacionais descredenciados e de pouco mais.
A ventania virou tornado e a oposição venceu de forma acachapante, Maduro reconheceu a derrota e o povo festejou, embora se visse pouca gente nas ruas de Caracas porque o medo das milícias ainda é grande. Não importa, desde então, a terceira lamparina da liberdade e da democracia ilumina o céu da América do Sul.
Há um longo caminho a percorrer, tanto no Brasil quanto no continente, mas os primeiros passos são sempre mais difíceis e esses já foram dados. Nossa pressão, assim como aconteceu na Argentina e na Venezuela, fará a diferença.
Em frente, ombro a ombro, com a esperança de dias melhores para nossos filhos e netos. Às ruas, porque os venezuelanos mostraram que juntos, somos invencíveis. Avancemos!
*Thelma de Oliveira é vice-presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB