Fiquei bastante preocupado com essa última informação: imaginei o Brasil todo quebradinho, sem lugar para colocar meus pés que, apesar de pequenos, precisam de apoio, mas pelo que entendi da conversa dos meus pais; “quebrar o Brasil” também pode querer dizer que o país em que vou nascer não tem mais dinheiro para hospitais, escolas, creches…Socorro!!! Será que dá para mudar de ideia? Adiar minha chegada? Aqui está tão quentinho…
Minha mãe devia tomar mais cuidado com o que diz, sou pequenininho, mas orelhudo e presto uma atenção danada nas conversas dela. Pelo rumo da prosa estou começando a achar que me enrolaram “lá em cima”, com aquela conversa mole de “avanços sociais, país do futuro, vida tranquila pela frente”, como é que posso ter uma vida tranquila pela frente se já vou nascer devendo R$ 30 mil e nem sei o que é isso? Assustador…
Mas hoje ela acordou diferente, risonha, até deu uma cantarolada debaixo do chuveiro. Comentou com meu pai que os tempos estão mudando, que o Tribunal de Contas da União – União parece que é outro nome para Brasil que é outro nome para o meu país, essa língua parece ser difícil pra burro, acho que vou aprender a falar com uns 60 anos… – pois então, esse tal tribunal reprovou as contas da tal presidente irresponsável e parece que agora quem vai ter que pagar pela gastança é ela, ebaaaa.
Não entendi nada, mas pelo humor dela parece que o que aconteceu ontem fez do Brasil/União/país um lugar melhor; que ainda vai demorar um pouco, mas vão acontecer mudanças que, quando eu estiver maiorzinho, farão a maior diferença na minha vidinha. Vou poder brincar em segurança, estudar em boas escolas, ter um sistema de saúde decente.
Fiquei tão aliviado que desisti da ideia de atrasar minha chegada, acho que vai dar tudo certo, no final!!!
*Luciana Loureiro é intérprete e mãe do Bento, assessora jurídica e membro do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB