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Estupro em nome de Deus

Estado Islâmico usa interpretação distorcida do Alcorão para justificar escravas sexuais

07 Aug 2014, Dohuk, Iraq — A woman prepares a meal for her family in a camp in Dohuk, Iraq on Aug. 7, 2014. This camp, formerly for Syrian refugees, has now had the Yazidi minorities transfered to it. Yazidi families have retreated to escape the killings of Yazidis by the militant group Islamic State of Iraq and Syria, ISIS. — Image by © Ali Arkady/VII Mentor Program/Corbis

POR RUKMINI CALLIMACHI, DO ‘NEW YORK TIMES’

QADIYA, IRAQUE – Momentos antes de estuprar a menina de 12 anos, o combatente do Estado Islâmico (EI) tomou o tempo de explicar que o que estava prestes a fazer não era um pecado. Já que a garota era adepta de uma religião diferente do Islã, o Alcorão não apenas lhe dava o direito de estuprá-la — ele encorajava isso, insistiu o jihadista. Após amarrar suas mãos e amordaçá-la, ele se ajoelhou ao lado da cama e se prostrou em oração antes de consumar o ato sexual. Quando acabou, se ajoelhou para orar de novo, cercando o estupro com atos de devoção religiosa.

— Eu fiquei dizendo que estava machucando, para ele parar por favor. Ele disse que segundo o Islã ele pode estuprar uma infiel, que isso o deixa mais perto de Deus — disse ela em uma entrevista ao lado da sua família no campo de refugiados para o qual escapou após 11 meses cativa.

O estupro sistemático de mulheres e meninas da minoria religiosa yazidi se entranhou na organização e na teologia radical do EI no ano que se passou desde que o grupo anunciou que decidira reviver a instituição da escravidão. O comércio de mulheres yazidis criou uma infraestrutura permanente, com uma rede de armazéns onde as vítimas são mantidas, salas de exibição onde elas são inspecionadas e vendidas e uma frota de ônibus usada para transportá-las.

Um total de 5.270 yazidis foram sequestrados no ano passado, e ao menos 3.144 ainda são mantidos cativos, de acordo com líderes da comunidade. Para negociá-los, o EI desenvolveu uma detalhada burocracia de escravidão sexual, incluindo contratos de venda registrados por cortes islâmicas. A prática também se tornou uma ferramenta para recrutar homens de sociedades muçulmanas profundamente conservadoras, onde sexo casual é tabu e namoros são proibidos.

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