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Sartori pegou o Estado com “tempestade perfeita”, avalia Yeda

Foto: George Gianni

Foto: George Gianni/PSDB

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Guilherme Kolling e João Egydio Gamboa

No primeiro ano de mandato, 2007, a ex-governadora Yeda Crusius (PSDB) parcelou o salário dos servidores públicos estaduais, situação que se repetiu em julho, quando o atual chefe do Executivo, José Ivo Sartori (PMDB), tomou a mesma medida. A tucana avalia que a situação de Sartori é muito mais difícil, não só pelo déficit maior projetado para este ano, como também pela crise política e as dificuldades do governo federal. “O Brasil quebrou.” Por isso, Yeda apoia o pacote de medidas propostas por Sartori, como a reforma da previdência estadual. Nesta entrevista aoJornal do Comércio, ela ainda comenta semelhanças entre o início das duas gestões, caso do projeto de aumentar a alíquota de ICMS, que não passou no governo da tucana. Também fala da conjuntura nacional e critica a intervenção no PSDB do Rio Grande do Sul.

Jornal do Comércio – O governador Sartori diz que a situação do Estado é mais difícil do que ele pensava. A senhora, ao assumir, também observou que o quadro das finanças era grave. Qual era a situação?

Yeda Crusius – Falei que era muito difícil já na campanha, e tínhamos um plano de governo, o que a gente propunha em quatro anos, a resolução desses problemas. Assumimos e confirmamos (o quadro). Eu não herdei um governo do PT, herdei do PMDB (do governador Germano Rigotto), portanto, tínhamos a realidade do governo, não precisamos buscar do começo. E se confirmou que o déficit era R$ 1,5 bilhão. O do Sartori é muito maior, R$ 5,4 bilhões é o que ele herda agora. E não tinha os dados, teve perda de tempo até ver a verdadeira dimensão do problema. Outra semelhança é que a gente disse: “não podemos perder receita”. E a lei do aumento das alíquotas (do ICMS) do tempo do Rigotto fenecia em 31 de dezembro (de 2006). Então, comecei com menos receita (o projeto para manter o aumento do ICMS não foi aprovado). Sartori agora enfrenta uma recessão até então maquiada, assim, tem menos receita. E não pode contar com a ajuda do governo federal. Eu sabia que não teria, por outra coisa, político-partidária.

JC – O ajuste no seu governo foi feito mesmo sem passar o reajuste da alíquota do ICMS…

Yeda – Comecei com menos receita. Havíamos proposto cortar 25% dos cargos de confiança (CCs) e gastos em custeio. Com menos receita, cortamos 30% dos CCs e do custeio. Sartori começa com um déficit, o dele é muito maior, e com perda inicial de receita, não tem de onde buscar – eu não tinha por não contar com o governo federal, a experiência do primeiro mandato do Lula (PT) mostrava que não viria para os não amigos. No caso do Sartori, o Brasil quebrou nesse período. E no orçamento que ele herdou, há receitas previstas que não vão se concretizar.

JC – Há também o problema estrutural das finanças.

Yeda – A gente via três problemas: a dívida, o Rio Grande do Sul é o mais endividado; a previdência, o Estado é o que tem a maior proporção de inativos sobre ativos; e a estrutura tributária, a parte fiscal. E continuam esses problemas estruturais. Apesar de eu ter encaminhado o aumento de capital do Banrisul – quiseram colocar um rótulo como se tivesse privatizado, diziam que era igual ao (ex-governador Antonio) Britto (PMDB, 1995-1998), mas eu fiz um IPO (oferta inicial de ações), aumentei o capital do Banrisul –, fiz dois fundos de aposentadoria com esses recursos. E, com um empréstimo do Banco Mundial, reestruturamos (em parte) a dívida. E fiz o déficit zero, então ataquei os três problemas. Mas o governo Sartori herda a mesma coisa, com a diferença que naquele tempo ainda tinha céu de brigadeiro, não tinha crise internacional, a taxa de juros Selic não era 14,25%. Então, Sartori herda uma conjuntura pior, pega a tempestade perfeita. E pega a crise política, a crise da confiança, o Brasil está em recessão, não está tendo aquela expansão mínima do governo federal, que traz receita, emprego, investimento. Ele pega a crise perfeita.

JC – E teve também em comum o parcelamento do salário dos servidores, que, no seu caso, foi no primeiro ano. O problema é a política salarial do Estado?

Yeda – Não. Nem eu nem o Sartori pensamos isso. Não pode é fazer festa com dinheiro público, aplicando aumentos muito superiores ao crescimento do PIB e da inflação, que foi dado pelo governo Tarso (Genro, PT). Eu já tinha dado aumento, herdei o não pagamento das leis Britto, que deram aumentos salariais às categorias em 1995. Doze anos depois, em 2007, começamos a pagar os atrasados. E os salários. Reestruturamos todas as carreiras, menos as lideradas por sindicatos que não permitiram, o da Brigada e o dos professores. Depois do déficit zero, dei aumento salarial para todo mundo, fiz concursos, mas com previsão de receita realista. Então, não é o salário (o problema), foi a expansão salarial. Tarso fez uma gestão temerária das finanças, deu aumentos e não tinha receitas previstas para pagá-los. Agora, o problema imediato de desembolso é salário. O que eu fiz? Quando me vi com receita menor, avisei em janeiro que não ia dar para pagar salário. Sartori falou desde o começo: “Não vai dar para pagar salário”. Ninguém acredita, até a realidade bater na cara. Eu cortei 30% de custeio e de CCs. A primeira medida do governo Tarso foi preencher os 30% que eu tinha cortado, dobrar, quadruplicar o valor dos CCs… E a gente também reestruturou, criei subsídios para carreiras jurídicas – Procuradoria, Defensoria, Ministério Público e Tribunal de Justiça.

JC – Fim dos penduricalhos…

Yeda – Eu acabei com os penduricalhos, o salário inicial de cada categoria era R$ 11 mil, R$ 14 mil… Agora recriaram os penduricalhos, tem “o auxílio 1”, “o auxílio 2, 3, 4…”, que o Sartori tem que pagar. É um aumento salarial extraordinário, a inflação fica muito longe dos aumentos que eles estão se dando.

JC – A senhora fazia um balanço mensal das contas. Como avalia a divulgação do parcelamento agora, no dia do pagamento dos salários, 31 de julho?

Yeda – Sartori tinha dito que não tinha dinheiro para pagar a folha. É outra linguagem, a governadora é economista, Sartori conhece poesias magníficas… Criamos um grupo para apresentar mensalmente as contas. Mas quando chegou a hora de parcelar, não estávamos tão mal quanto Sartori. Do nosso corte, conseguíamos pagar o resto até o dia 10 do mês seguinte. Sartori não tem esse caixa.

JC – Nesse contexto, passa o aumento da alíquota do ICMS?

Yeda – Olha, eu tentei não ter queda de receita. Não tive sucesso. Na primeira vez, pedi que o governador Rigotto mandasse. Na segunda, incluía uma reestruturação dos impostos. Poucos dias antes, estourou a Operação Rodin e não passou o projeto. A questão política que se coloca com essa operação da Polícia Federal do ministro (da Justiça, na época) Tarso. Perdemos a oportunidade de fazer uma reestruturação. Sartori está tentando, com projetos estruturais relevantes, inclusive da previdência. Espero que passe, principalmente a Lei de Responsabilidade Fiscal Estadual, para que não aconteça o sacrifício que fizemos de 2007 a 2010, e o próximo (governador) se refestele com o que a gente deixou. E deixei um monte de dinheiro em caixa.

JC – As projeções para os quatro anos do governo Sartori são de déficits. É possível ter um superávit até 2018?

Yeda – Sim. Ninguém acreditava que em dois anos alcançaríamos o déficit zero. O que o governo Satori disse na caravana (sobre a situação das finanças) é que continuam os problemas estruturais, e a ele se soma a crise brasileira, que não é “marolinha”.

Clique AQUI para ler a íntegra.

*Entrevista publicada na edição desta segunda-feira (10) do Jornal do Comércio

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