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“Internet na berlinda”, por Terezinha Nunes

O filósofo e escritor italiano Umberto Eco, considerado um verdadeiro gênio em seu país, chocou alunos da Universidade de Tourino, há poucos dias, e expressou em entrevista recente à Revista Veja que , na sua opinião, a Internet e as redes sociais têm permitido que “milhões de imbecis passem a opinar a respeito de termos que não entendem”.

Questionado pela revista sobre a rudeza de seu diagnóstico, sobretudo pelo cruel adjetivo utilizado, Eco se explicou : “ não falo do caráter das pessoas. O sujeito pode ser um excelente funcionário ou pai de família mas ser um completo imbecil em relação a determinados assuntos”.

Para ele, como o acesso à Internet é livre, o ideal seria que os jornais impressos passassem a comentar o que dizem as redes e instruir melhor os jovens que, segundo ele, acompanhando apenas a Internet, não terão condições de filtrar os textos que recebem, fazendo melhor juízo a respeito das opiniões alheias.

A julgar pela reação a opiniões dessa magnitude nas redes é provável que Eco esteja sendo esculhambado por aí pelos internautas. Também é preciso destacar que “estes imbecis” citados pelo escritor também produziram verdadeiras revoluções na chamada Primavera Árabe, quando o povo se levantou para enfrentar ditaduras através de mobilizações convocadas pelas redes sociais e continuam fazendo o mesmo pelo mundo afora.

Os Internautas, portanto, mesmo muitas vezes errando, conseguem produzir, pela força da liberdade de comunicação que a Internet garante, a divulgação de boas ideias que poderiam permanecer desconhecidas. Resta que os divulgadores do bem utilizem as redes tanto quanto o fazem os divulgadores de inverdades que, de tão repetidas, acredita-se serem reais.

Aqui no Brasil o jornalista Zeca Camargo, da TV Globo, passou em 24 horas de galã a vilão nas redes sociais ao emitir, recentemente, sua opinião sobre o alcance da cobertura que considerou exagerada nas Tvs da morte e sepultamento do cantor sertanejo Cristiano Araújo.

A própria emissora de Zeca, a Rede Globo, correndo contra o prejuízo pois não costuma fazer tanto estardalhaço com morte de artistas, improvisou coberturas, passou o dia repetindo vídeos e informações, fez grandes apresentadores gaguejarem diante das câmaras e Fátima Bernandes chamar o cantor de Cristino Ronaldo (jogador de futebol muito mais famoso),gerando igualmente críticas nas redes.

Sentindo-se impotente diante das reações iradas de fãs e de outros cantores sertanejos que postaram suas imagens tapando os ouvidos para não ouví-lo, o apresentador se queixou de que muito do que se colocou nos comentários ele não havia dito “ fãs se basearam não no texto original mas na repercussão da repercussão”.

Ora, da mesma forma que Zeca tem direito a dar suas opiniões e deve ser respeitado, afinal “toda unanimidade é burra” como dizia o grande escritor Nelson Rodrigues, é da diversidade de opiniões que se constrói a democracia, o mais perfeito regime político do mundo.

Na semana passada as vítimas foram os deputados que votaram contra ou a favor da redução da maioridade penal. Antes mesmo de saber as razões de cada um, houve exageros de condenações nas redes.

Está correto e deve ser ressaltado o fato de agora, com as redes, as pessoas estarem podendo expressar o sentimento e a opinião aos seus representantes mas antes é preciso saber o que realmente fizeram ou disseram. Afinal, como mostra conhecida brincadeira infantil que inicia com uma frase repetida sucessivamente, ao pé do ouvido, por uma fileira crianças em que a mensagem final acaba totalmente diferente da primeira, Zeca parece ter sido muito mais condenado pela interpretação do que disse do que pelo que realmente falou.

* Terezinha Nunes é presidente do PSDB Mulher-PE e suplente da Executiva Nacional do PSDB

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