Brasília (DF) – A homenageada com a Medalha Ruth Cardoso é a Fundação Konrad Adenauer, mas quem vai receber o prêmio neste sábado (04), no Hotel San Marco, é seu representante no Brasil durante os últimos três anos, Felix Dane.
Especialista em relações internacionais e política internacional, assim como na promoção e desenvolvimento de diálogo político na sociedade civil e demais instituições, Dane trabalha na Fundação Konrad Adenauer (KAS) desde 2009 e, antes de vir para o Brasil, em 2010, foi representante da KAS nos Territórios Palestinos.
Felix trabalhou durante cinco anos no Parlamento Europeu, é mestre em estudos europeus pela London School of Economics e bacharel em relações internacionais pela Keele University, ambas no Reino Unido. Fala inglês, alemão, francês e português fluentemente, com nível intermediário de espanhol.
Nossa homenagem não seria completa sem a presença dele, que foi um parceiro interessado e constante durante o período em que esteve à frente da KAS. Em todos os cursos, palestras e ciclos de debates que nos propusemos fazer, tivemos em Felix Dane um incentivador, um parceiro e um conselheiro, mais do que isso, um amigo.
Felix Dane encerra em julho seu tempo no Brasil para assumir novos desafios em Berlim e vai deixar saudades no PSDB-Mulher. A pequena entrevista aqui no site é nossa maneira de agradecer e desejar boa sorte.
PSDB-Mulher – Três anos no Brasil e que anos! Pode-se dizer que o senhor fez um curso intensivo em política brasileira, no que ela tem de melhor e de pior. O saldo, como ficou?
FD – Acredito que não exista outra maneira de conhecer a política feita no Brasil se não a de estar aqui por um tempo para buscar entender o modo operacional dos atores nesse sistema. E a minha experiência é algo ambivalente por assim dizer. É aventurosa e até divertida de um lado, mas preocupante de outro. A democracia está consolidada no Brasil com certeza. Mas a crise de confiança por que passa o sistema político mostra quão grandes são os desafios a superar pela sociedade brasileira. Para além disso, vejo que o Brasil está cumprindo as tarefas e a sociedade faz uso dessa crise para a resolução de parte dos problemas. O saldo para mim, portanto, é positivo.
PSDB-Mulher – Em um dos cursos que o PSDB-Mulher fez em parceria com a Fundação Konrad Adenauer, o senhor classificou a maior participação feminina na política de um país como “forma segura de fortalecer a democracia”. Pode desenvolver um pouco essa afirmação?
FD – Uma democracia deve contemplar a população por inteiro. Aqui no Brasil, a participação de mulheres na política é extremamente baixa, ou seja, uma parcela imensa da população está sem representação. Junto a isso e pelo papel que a mulher desempenha na família como formadora das ideias para as novas gerações, essa lacuna parece maior ainda. Penso que em uma sociedade moderna como a brasileira, quanto maior for o número de mulheres ativas politicamente, tanto melhor o País se desenvolverá para todos.
PSDB-Mulher – Na Alemanha, a participação das mulheres na vida pública é bem maior do que aqui no Brasil. Em sua opinião, que medida foi mais eficaz para que conseguissem alcançar esse protagonismo?
FD – Creio que foi com a educação sobretudo. E falo da educação em geral, seja na escola ou nos círculos de debates públicos, ou para o ativismo político propriamente. Lá, estimula-se o consumo de notícias e o engajamento nas questões da sociedade civil é ensinado como prática afirmativa. As cotas para mulheres podem ser úteis e são usadas na Alemanha também. Recentemente, foi votada e aprovada uma cota para mulheres nos conselhos administrativos de grandes empresas. É preciso aprender as regras do jogo para poder jogar de maneira efetiva. A KAS promove esses cursos de capacitação para isso, falando em termos bem amplos.
PSDB-Mulher – Recentemente a Câmara dos Deputados rejeitou uma proposta de emenda constitucional que tornava obrigatória cota legislativa mínima de 30% para mulheres, adotada por vários países. Como manter o ânimo, se os homens na política se negam a abrir espaço?
FD – Ninguém cede espaço voluntariamente na política e isso não acontece no Brasil somente. Nenhuma liderança parlamentar vai sugerir uma mudança prejudicial a si própria por boa vontade somente. É preciso lutar com ideias e palavras, e sob a luz das leis, para assumir um papel de influência nos processos até a chegada ao poder. É preciso estimular as mulheres brasileiras a agirem assim! Que sejam animadas a reclamar os seus direitos para então conquistar esse espaço no legislativo. Isso pode se concretizar com estudo profundo dos processos e engajamento para que, em seguida, mostrem com boas ideias de que forma vão contribuir e agregar. Esperar por uma cota não deve ser alternativa única.
PSDB-Mulher – Foram três anos de parceria e aprendizado para nós, aprendemos muito com sua visão do mundo e temos consciência de haver dado um pouco de trabalho com o cronômetro, muitas vezes. As mulheres tucanas ensinaram alguma coisa ao senhor, nessa troca de experiência?
FD – A KAS não apoia cursos de educação política para mulheres apenas. Temas como meio ambiente e mudanças climáticas, e relações internacionais, além de participação da juventude estão, também, na nossa agenda. Cito esses programas para demonstrar que o perfil do trabalho da KAS é diverso no Brasil. Mas a experiência com o PSDB-Mulher foi especial para mim, porque me mostrou que grandes processos na política internacional não podem ser implementados sem tomar em conta os temas políticos nacionais e locais. Percebo um grande potencial para avanços no PSDB-Mulher, tanto em favor do amadurecimento da democracia como no crescimento de uma sociedade mais justa para as brasileiras. Eu ficarei feliz ao observar vocês, do PSDB-Mulher, de longe, fazendo uso desse potencial. A maneira construtiva como vocês e eu colaboramos provou a importância dessas visões diferentes do mundo. Ambos os lados dessa parceria aprenderam, portanto. Assim, essa cooperação com vocês ensinou muito a mim sobre sociedade e política, e me ajudou a entender o País melhor. Agradeço muito a franqueza das conversas que tivemos ao longo desse tempo e digo que a saudade do Brasil começa já, mesmo antes da minha partida.