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Leitura: Abra o coração para a energia feminina

Ilustração da matéria: Isabelle Tuchband/Bons Fluidos

Smith Rock, Oregon, USA --- Woman performing on aerial silks at Smith Rock at sunset --- Image by © Isaac Lane Koval/Corbis

Smith Rock, Oregon, USA — Woman performing on aerial silks at Smith Rock at sunset — Image by © Isaac Lane Koval/Corbis

*Matéria publicada na edição de maio da revista Bons Fluidos

Numa sociedade em que o tempo mais parece um tirano, estudantes se prepararam para um futuro competitivo, o corpo precisa se encaixar em moldes pré-fabricados, o confronto permeia o convívio com a diferença e boa parte dos casais disputa poder, fica difícil imaginar outro sistema de vida. Então, aceite o convite de BONS FLUIDOS e feche os olhos. Agora, vislumbre um mundo pautado pela amorosidade, onde o tempo é amigo e usado para sedimentar parcerias, desenvolver talentos, cuidar do que precisa ser cuidado. Nesse arranjo, imperam a cooperação, a harmonia e o diálogo, já que o grande lema é extrair o melhor de cada um, para o bem de todos. E, acima de tudo, a natureza é reverenciada, pois é vista como a Grande Mãe, a Doadora de Tudo, a Deusa, a energia responsável pela criação e pela sustentação da vida ou, se preferir, o aspecto feminino da divindade.

“Diferentemente do Deus, o sagrado masculino, que se manifesta de cima para baixo, o sagrado feminino simplesmente é, porque a Deusa é natureza, está dada”, acredita Cristiane Marino, arte e psicoterapeuta e coordenadora de grupos de estudos e vivências ligadas ao resgate do feminismo, de São Paulo.

O primeiro cenário retrata a cultura da dominação, na qual estamos imersos.O segundo diz respeito a um modo de vida centrado no feminino sagrado, força ou energia psíquica presente tanto em homens quanto em mulheres, mas ofuscada por valores masculinos desmedidos como a combatividade, o pensamento racional como via única –, que exclui outras formas de sabedoria, como, por exemplo, a intuição –, e a ambição fora de controle, patrocinadora da degradação ambiental e humana. Chega a ser quase fantasioso imaginar a época em que o princípio feminino e seus atributos – o criar, o cuidar, o acolher, a empatia, a criatividade, o saber intuitivo e o senso de pertencimento ao corpo coletivo – existiram em abundância. Sim, nesse mesmíssimo planeta. Segundo a socióloga austríaca Riane Eisler, autora de O Cálice e a Espada – Nossa História, Nosso Futuro (ed. Palas Athena), evidências arqueológicas provam ter havido nos períodos Paleolítico (há 30 mil anos) e Neolítico (há 10 mil anos), na Europa, sociedades pacíficas e igualitárias, organizadas em torno da cooperação e do respeito por todos, sobretudo pela natureza. Adorada como doadora e renovadora da vida. Afinal, a terra acolhia as sementes que mais tarde ressurgiam na fartura da colheita, como também a procriação dependia do ventre das mulheres, regidas por ciclos similares aos da Lua e aos das estações do ano. Não à toa, o feminino sagrado é representado pela água, matriz da vida, assim como o útero, associado à imagem do cálice. Há cerca de cinco mil anos, contudo, esse modelo de parceria, também chamado de matrístico – e não matriarcal, já que, segundo essa linha de pesquisa, nunca houve o poder autoritário da mulher sobre o homem –, foi sendo sobrepujado pelo sistema de dominação imposto por tribos nômades e guerreiras. Desde então, prevalecem a guerra, a exploração dos recursos naturais e o domínio dos homens sobre as mulheres. Com todos os danos colaterais advindos desse modo de viver e se relacionar, como bem apontam os fatos históricos.

 

Ponto de mutação

 

Mas, felizmente, tudo pode se transformar. Criar o novo, regenerar o velho e, como é o caso, calibrar excessos são especialidades da natureza. Por isso, se encontrar a terra fértil de que tanto necessita, a força reguladora do feminino sagrado tem tudo para surpreender a humanidade com uma nova era de florescimento e equilíbrio.

 

O físico austríaco Fritjof Capra assegurou na obra O Ponto de Mutação – A Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente (ed. Cultrix) que atravessamos uma fase por ele chamada de “ponto de mutação”, período de crise no qual o velho paradigma de consumo, competição e conquista está entrando em decadência para dar lugar a um novo paradigma de cooperação, compaixão e comunidade. Capra escreveu isso em 1986 e continua atual, prova de sua pertinência. “Todos nós, homens e mulheres, precisamos fazer uso do amor, do carinho, da compreensão e da bondade do feminino sagrado para recobrar o equilíbrio em nossas vidas e em nosso mundo”, propõe Susan Andrews, psicóloga e coordenadora do Instituto Visão Futuro, dedicado ao desenvolvimento físico, mental e espiritual do ser humano em sintonia com o meio ambiente, localizado em Porangaba, no interior de São Paulo. Segundo ela, parte da sabedoria do feminino está ligada à capacidade de ouvir e ser receptivo. Ponto de partida de uma linda metamorfose para qualquer área. “Se formos capazes de desligar nossos celulares e ouvir a chuva e os rios, desfrutar das luas crescente e minguante, vamos descobrir que a vida, a Grande Mãe, quer nos sussurrar algo.

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*Texto: Raphaela de Campos Mello

 

 

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