Maceió – A chuva não atrapalhou a manhã do segundo dia do curso para novas lideranças do PSDB-Mulher em parceria com a Fundação Konrad Adenauer. Ao contrário, o dia fechado ajudou a manter o foco das mais de cem tucanas inscritas, deslumbradas com a beleza do mar verde em frente ao hotel.
Thelma de Oliveira, vice-presidente do PSDB-Mulher Nacional abriu o evento, destacando a presença de Nancy Thame e Sonály Bastos, agradecendo à última a organização do evento e chamou rapidamente as componentes da primeira mesa de debates. O dia de hoje vai ser intenso e todas as participantes voltarão para seus estados de origem no final desta sexta-feira (06). Não há tempo a perder.
Mulheres na política
A moderadora Tereza Nelma, vereadora e presidente do PSDB-Mulher/Maceió, começou comentando o caso do assassinato contra uma menina de 13 anos, ocorrido hoje na porta da escola de um município próximo a Maceió, como exemplo do aumento da violência às vésperas do Dia Internacional da Mulher, no dia oito de março.
Fátima Jordão, socióloga e conselheira do Instituto Patrícia Galvão, comentou a importância de falar para uma plateia engajada em participar da política brasileira justamente no momento em que o Brasil vive uma crise e cita recente declaração do FMI, reconhecendo que sem as mulheres não há desenvolvimento econômico em um país.
“Com o Brasil em transe, nós estamos diante de um grande escândalo, ontem, na palestra da professora Loreley Gomes Garcia, vimos como os indicadores de desigualdade estão ligados ao desenvolvimento dos países. Vou além, citando Nélson Rodrigues: “Subdesenvolvimento não se improvisa, machismo também não”.
“O Brasil é a 16ª reserva de petróleo do mundo, somos o 39ª colocado em matrículas de escola; em IDH, somos o 70º; em PIB, 77º, saímos do Paraíso. Em expectativa de vida, 80º. O Brasil lida com um escândalo, não com desigualdade, lida com um escândalo de desigualdade, um abismo”, pontua a pesquisadora, dizendo que na América Latina estamos em penúltimo lugar, à frente apenas do Haiti.
O PSDB-Mulher tem um papel muito importante; alertar suas mulheres e alertar os partidos para essa enorme desproporção: Fátima Jordão.
Cristina Buarque, cientista política e feminista de primeira hora, acrescentou: “Para que as mulheres entrem na política é preciso que alguns homens saiam, não tem jeito”. Não há nenhum motivo de se fazer uma política de promoção de igualdade que não seja para emancipar.
O estado brasileiro é viciado no que trata da mulher, de negro, do pobre, do homossexual. Os enxerga como necessitados de assistência social, que não foi construída para mudar a sociedade. Ao assisti-los como necessitados não permite que transformem a sociedade. Não queremos aderir e sim modificar, levando uma perspectiva feminista ao aparato estatal.
Mariangela Nascimento, também cientista política e professora da UFBA, contribuiu “A política é a arte mais bela criada pelo homem, porque a única que só existe a partir da condição plural do homem. Não se faz política sozinho. A democracia é o sistema político que realiza essa arte. Ainda não se inventou nada melhor do que a democracia. No entanto, a democracia nos obriga a conviver com o que é diferente, não é fácil viver em uma. Maquiavel dizia que onde há conflito, há liberdade”.
No encerramento da sessão de debates, Fátima Jordão emocionou-se: “Se há alguma maneira de o Brasil mudar, não depende de políticos que estiveram anos e anos no poder e não mudaram, depende de vocês, vocês são o sal da terra”.
Maioria Oprimida
Com moderação de Adriana Toledo, vice-presidente do PSDB-Mulher/AL, o painel é um dos mais aguardados em todos os cursos. “É muito difícil a mulher ser vista como ser pensante. Nós impõem uma leitura até pernóstica quando vamos falar e se percebe isso até no olhar dos homens, mas não podemos esmorecer. Somos maioria, mas enquanto não ocuparmos nem 10% nos espaços de poder, teremos uma democracia enfraquecida e isso depende nós. Precisamos ocupar esse espaço, que não nos será dado de presente”, disse Adriana.
Sílvia Rita Souza, conselheira dos Direitos da Mulher do Distrito Federal exibiu o filme francês que dá nome ao painel, em que os homens são assediados por mulheres, em uma sociedade femista. “Quem não é prisioneiro da necessidade é prisioneiro do medo”, Eduardo Galeano.
Comentando o filme francês, Sílvia disse que, em sua opinião, o caminho passa pelo equilíbrio das duas partes. Se no mundo em que vivemos, homens e mulheres fossem tratados como iguais, uma inversão de papéis não mudaria muito as coisas. A solução é criar uma sociedade equilibrada e igualitária.
Maria das Dores Dolly Soares – Diretora do Centro de Valorização da Mulher CEVAM/Goiânia, mostrou o excelente trabalho realizado pelo centro, no uso de abrigamentos como instrumento efetivo para proteção das mulheres e meninas vítimas de violência em Goiás.
Dolly, como é mais conhecida, destacou saber que os centros de abrigamento não são preventivos e sim paliativos, mas que as leis atuais são consequência da pouca participação feminina no Legislativo nacional. “Entre 2013 e 2014 o número de crimes praticados contra a mulher aumentou em 91,8%, em nosso estado”.
“O abrigo não tem que ser escondido, e sim protegido, não temos do que ter vergonha”, explicou Dolly, que contou que as crianças também vão para os abrigamentos e é preciso se organizar para receber meninos que, normalmente, veem o pai como herói porque a mãe espancada, normalmente, tenta preservar a figura paterna.
“Não vamos colocar toda a responsabilidade do Brasil atual nas costas do governo. Temos que ensinar a nossos filhos e netos que política se faz com responsabilidade e consciência. Que não é normal o que está acontecendo aqui”: Solange Jurema.
Encerrando o painel e a programação da manhã, Solange Jurema, presidente do PSDB-Mulher Nacional, começou citando Aristóteles, para quem “As fêmeas são biologicamente mais fracas e mais frias e deve-se considerar sua existência como um defeito da Natureza” e Proudhon, para quem “As mulheres que exercitam sua inteligência se tornam feias, loucas e macacas”.
Solange afirmou que, com a influência que pensadores ocidentais misóginos como os citados, tiveram sobre o pensamento moderno, inclusive sobre o relator do antigo Código Civil, Josaphat Marinho, não é de se estranhar que o pátrio poder estivesse nas mãos dos homens.
Solange mostrou às novas lideranças que as leis, até muito pouco tempo atrás, quando as mulheres não tinham acesso aos espaços de Direito, eram todas direcionadas aos homens. Não é a toa que até há pouco tempo o estupro era tipificado crime contra os costumes. A dor da mulher não era levada em conta.
“É preciso que as jovens percebam que as facilidades de hoje são produto das lutas que enfrentamos nas décadas de 80 e 90. Ainda temos muito a conquistar. Não vamos colocar toda a responsabilidade do Brasil atual nas costas do governo, também temos a responsabilidade que começa em casa, junto a nossos filhos e netos, de ensinar valores, mostrar que política se faz com responsabilidade e consciência. Que não é normal o que está acontecendo aqui”, encerrou Solange com aplausos da plateia.
O curso continua após o almoço, devendo terminar às 16horas.