Formada em Direito com especialização em Direito Constitucional e em Mediação e Arbitragem, a presidente nacional do PSDB-Mulher, Solange Jurema, dedicou sua vida a defender a ampliação do espaço político para as mulheres. Para ela, o quadro da participação feminina na política brasileira é marcado por avanços, mas também por barreiras institucionais que ainda precisam ser superadas.
“Hoje não se faz eleição sem a participação ativa das mulheres”, destacou Jurema, que atualmente é secretária do Trabalho, Abastecimento e Economia Solidária da prefeitura de Maceió. “[Infelizmente há ainda] a barreira da oportunidade, para que uma mulher possa entrar em uma eleição nas mesmas condições de um homem. O processo político é complicado.”
Ex-presidente pró-tempore da Reunião Especializada da Mulher do Grupo Mercado Comum, Mercosul (REM) e ministra-chefe da Secretaria Nacional de Políticas Públicas para Mulheres no governo Fernando Henrique Cardoso, Jurema defende que as mulheres ocupem mais espaço nas instâncias diretivas dos partidos políticos e nos cargos superiores das administrações públicas.
A seguir, os principais trechos da entrevista de Solange Jurema.
Após mais de 80 anos de implementação do voto feminino, como a senhora avalia o acesso das mulheres à política brasileira?
De um momento em que não podíamos votar para o que temos na atualidade, avançamos e muito. Avançamos na mobilização, na participação de movimentos, nas eleições. Hoje, não se faz eleições sem um grupo de mulheres. Mas, quando pensamos na participação das mulheres nos cargos diretivos, vemos que é ainda muito pequena. Há dificuldades para as mulheres serem eleitas, e elas não têm muito espaço nos partidos e nos cargos de direção.
Qual a principal barreira que as mulheres ainda encontram na vida política?
É a barreira da oportunidade, para que uma mulher possa entrar em uma eleição nas mesmas condições de um homem. O processo político é complicado. Um dos caminhos que faz um político ser conhecido da sociedade é atuar em secretarias – o que, como vimos, é mais difícil para as mulheres. Mas, além disso, há também a dificuldade de as mulheres não terem políticas sociais que a permitiriam lutar na política, como mais creches e escolas em tempo integral.
Vigora hoje no Brasil uma lei que determina uma participação mínima de 30% de cada um dos sexos na lista de candidatos dos partidos. Mas há propostas no sentido de estabelecer cotas para a presença das mulheres no Poder Legislativo – por exemplo, ocupando 50% dos espaços na Câmara dos Deputados. Qual a opinião da senhora sobre essas iniciativas?
Sou favorável. Todos os países que têm melhores índices de igualdade entre homens e mulheres, como França, Dinamarca e Suécia, passaram pelas cotas em algum momento. Acredito que as cotas são necessárias para quebrar um problema cultural, que não irá se desfazer se não houver uma intervenção.
O Brasil tem, pela primeira vez em sua história, uma mulher no cargo de presidente da República. Como a senhora avalia a atuação, para as mulheres, da presidente Dilma Rousseff?
Quando Dilma fez seu primeiro discurso de posse, falou uma frase interessante: “agora, qualquer pai pode olhar para a sua filha e dizer ‘você pode ser presidente’”. Porém, para as mulheres, a atuação de Dilma é péssima. Porque ela é uma péssima presidente. E, infelizmente, os trabalhos ruins das mulheres acabam sendo lamentavelmente generalizadas para todas. Isso não ocorre com os homens; ninguém vê um homem desempenhando um mau governo e diz “ele está indo mal porque é homem”. De certo modo, o que ocorre agora com Dilma Rousseff é similar ao que vimos na época da Zélia [Cardoso de Mello, ministra da Fazenda no governo Collor]. Zélia foi um desastre, e se dizia na época: “por isso que uma mulher não pode ser ministra da Fazenda”. É exatamente por esse tipo de situação que nós do PSDB-Mulher temos que trabalhar com dedicação, para mostrar que as mulheres têm condição de ocupar cargos e fazer um bom papel.