O discurso feito por Dilma Rousseff na reunião ministerial de ontem está tão distante da realidade quanto suas ações neste início de segundo mandato se encontram das promessas de campanha. A presidente passou longe de explicar como e por que está tendo que tomar medidas tão drásticas para corrigir o que ela mesma desvirtuou.
Dilma listou medidas de “caráter corretivo” sem uma palavra sobre o que de errado é preciso consertar com elas. Faltaram-lhe humildade e transparência. Falou sobre cortes de direitos trabalhistas (transformados em “aperfeiçoamento da política social”) e aumentos de impostos como se fossem benéficos à população.
Nenhuma palavra de sinceridade, nenhum reconhecimento sobre as dificuldades que o país enfrenta. Como sempre, os culpados foram buscados em fatores alheios, jamais nas barbeiragens que seu governo patrocinou ao longo do primeiro mandato.
A presidente cobrou de seus subordinados uma boa comunicação: “Sejam claros, sejam precisos, se façam entender”. Mas ela mesma demorou quase um mês para vir a público explicar o pacotaço de maldades que seu governo patrocina nas últimas semanas. Estranhamente, os que se comunicaram neste ínterim foram repreendidos pela presidente.
Dilma falou em diálogo, mas continua impondo medidas goela abaixo, sem ouvir trabalhadores – no caso das mudanças nos direitos trabalhistas – ou agentes econômicos – como nas ações para fazer frente ao risco de racionamento de energia.
É de se louvar, porém, a constatação que a presidente enfim fez de que “contas públicas em ordem são necessárias para o controle da inflação, o crescimento econômico e a garantia, de forma sustentada, do emprego e da renda”. Bem-vinda à responsabilidade fiscal, Dilma. Mas será esta conversão verdadeira?
Continua no terreno da ladainha seu mais uma vez reiterado compromisso com o aumento dos investimentos, que nunca chega; com a desburocratização, que não tem como acontecer num Estado paquidérmico; com o controle da inflação, com cuja meta ela continua sem se comprometer; e com o impulso às concessões, empacadas há anos.
A presidente repete que combaterá a corrupção como nunca antes, mas não reservou uma palavra para explicar como, a cada dia que passa, o escândalo do petrolão ganha proporções nunca antes imaginadas.
Dilma Rousseff diz que não alterou “um só milímetro” seu compromisso com o projeto vencedor na eleição. Resta saber qual régua está usando para medir a realidade; pelo jeito, a dela está invertida. Não adianta fazer discursos para tentar transformar fatos em boatos.