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“Tempo de estio”, por Dora Kramer

dilmaposse3No dia 1.º de janeiro, em seu discurso de posse, a presidente Dilma Rousseff anunciou um Brasil próspero, uma pátria educadora e um País imune à corrupção. De lá para cá, dela não se ouviu mais palavra.
Há no mundo político aqui e ali registro de estranheza com tal recolhimento. Diante de tantos acontecimentos e anúncios importantes, a presidente da República tem se limitado a se manifestar por intermédio da assessoria de comunicação ou de notas oficiais.
Comportamento oposto – natural que assim seja – ao da candidata sempre disponível aos microfones. Mas, diferente também da presidente reeleita; primeiro, conciliatória, oferecendo-se ao diálogo e depois, na ofensiva, exortando a oposição a descer do palanque eleitoral sem, no entanto, dar o primeiro passo na direção sugerida.
Depois da posse, Dilma calou-se. A despeito da estranheza acima referida, se examinadas as razões sob a ótica da conveniência dela é possível concluir que nada de estranho ocorre. Afinal de contas, tudo o que aconteceu nesse breve período justifica – repetindo, do ponto de vista da presidente – o recolhimento.
As medidas anunciadas contrariam tudo o que disse a candidata na campanha e o cenário que se desenha é o oposto ao apresentado no discurso de posse.
Há aumento de tarifas, taxa de juros, perspectiva de elevação de impostos, restrição de investimentos, alteração em regras que mexem nos direitos trabalhistas e corte pesado no orçamento do Ministério da Educação, justamente a pasta a que ela se referiu como destinatária de “cada vez mais recursos” ao anunciar o lema “Brasil, pátria educadora”.
Quanto ao tema da corrupção que a presidente abordou com tanta ênfase avocando para si não apenas a defesa da Petrobrás como a descoberta e punição de todos os ilícitos ocorridos na estatal, os fatos seguintes não corroboraram suas afirmações. Os procuradores responsáveis pelo caso recentemente declararam que “o esquema” não foi estancado.
Diante de tantas contradições, vamos e venhamos, à presidente só restava se recolher. Caso optasse por falar, correria o risco de não parar de se desmentir.

*Dora Kramer é jornalista e colunista do jornal O Estado de S. Paulo

**Publicado no Estado de S.Paulo – 20-01-15

***Rede45

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