A sessão terminaria pouco depois do meio-dia. Com 480 votos a favor (sendo 166 oriundos de deputados do PDS), Tancredo foi eleito presidente do Brasil, contra 180 dados a Paulo Maluf, candidato do PDS, e 26 abstenções. O PT, contrário à eleição indireta e ao acordo feito com os governistas, optou pela abstenção e desligou do partido três deputados que votaram em Tancredo: José Eudes (RJ), Bete Mendes (SP) e Airton Soares (SP).
O presidente do PMDB, Ulysses Guimarães, entregara a Tancredo, no início de janeiro, o documento A Nova República, programa de governo do partido prevendo eleições diretas em todos os níveis, educação gratuita, congelamento de preços da cesta básica e dos transportes, renegociação da dívida externa, entre outros pontos. Eleito, Tancredo passou a representar a perspectiva de que todos os males do país começariam a ser sanados depois dos governos militares. “Não havia dúvida quanto ao resultado. Já se sabia que Tancredo seria eleito por uma grande maioria. O que havia era uma grande tensão porque não se sabia como os setores linha-dura das Forças Armadas se comportariam”, conta o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), que participou daquela sessão e que, na época, era filiado ao PMDB.
Logo após sua eleição, Tancredo fez uma série de viagens internacionais para negociar a dívida externa brasileira. Esteve em países da Europa, da América Latina e nos Estados Unidos. Voltou em meio a um sentimento de mudança muito grande da sociedade brasileira, refletida nas manifestações sociais e na atuação da imprensa. No entanto, quando do início da formação de seus ministérios, começou-se também uma certa decepção: entre os nomes estavam Antônio Carlos Magalhães no Ministério das Comunicações e Aureliano Chaves (vice-presidente do general Figueiredo) no Ministério de Minas e Energia, os dois ligados ao regime militar. No Ministério da Fazenda, de onde se esperavam as maiores mudanças de política econômica, o nome de Francisco Dornelles, sobrinho de Tancredo, conservador politicamente e adepto da ortodoxia econômica, gerou críticas internas no PMDB, que não externou tais repúdios por causa do apoio que o presidente tinha no País.
Todo o planejamento, no entanto, seria em vão: doze horas antes da posse, no dia 14 de março, ele foi internado às pressas no Hospital de Base, em Brasília, por causa de uma diverticulite. A dúvida, então, passou a ser sobre quem o substituiria: José Sarney ou Ulysses Guimarães (presidente da Câmara dos Deputados). Sarney foi empossado interinamente pelo Congresso Nacional, no dia 15. Tancredo ficou internado mais cinco dias e foi transferido para o Hospital do Coração, em São Paulo, alimentando ainda mais a tensão do País sobre seu estado de saúde, que viria a se agravar a cada dia. Os médicos ainda tentaram animar a população publicando uma foto com o presidente sentado em um sofá rodeado de médicos e assessores. A notícia chegou na noite do dia 21 de março, transmitida ao vivo no Fantástico, da Rede Globo: o assessor da presidência, Antônio Brito, subiu ao palanque improvisado em um salão do hospital. “Lamento informar que excelentíssimo senhor Presidente da República Tancredo de Almeida Neves, faleceu esta noite, no Instituto do Coração, às 10 horas e 23 minutos…”. O discurso duraria ainda alguns minutos, mas ali o Brasil já chorava a morte do primeiro presidente civil depois de 20 anos de ditadura militar.
*Publicado na Revista Brasileiros – 15/01/2015
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