Tancredo foi eleito pelo voto indireto dos parlamentares no Colégio Eleitoral. Obteve, como candidato do PMDB, 480 votos contra os 180 dados a Paulo Maluf, do PDS, o partido que dava sustentação ao governo militar. O Brasil se reencontrava com a democracia depois de 21 anos de ditadura.
Oito meses antes, fracassara a tentativa de reintroduzir eleições diretas para a presidente, com a derrota da emenda do deputado Dante de Oliveira na Câmara. O sonho de eleger o mandatário pelo voto direto só viraria realidade em 1989 – infelizmente depois transformado em pesadelo com a gestão de Fernando Collor de Mello.
A eleição de Tancredo marcou a união de todas as forças democráticas em contraposição ao arbítrio e a favor do Brasil. Ou melhor, de quase todas as forças: o PT, como seria marcante em sua trajetória futura, recusou-se a dar seu apoio ao novo presidente civil. Exigiu que seus oito deputados se retirassem do colégio; três se recusaram e foram expulsos do partido.
Com a morte de Tancredo, a Nova República acabou não correspondendo a todos os anseios represados pela população ao longo de duas décadas de autoritarismo. Em especial, na economia, com a escalada da inflação e o desarranjo das condições de mercado decorrentes das barbeiragens do governo de José Sarney.
Mas a Constituição de 1988 criou o novo arcabouço institucional que permitiria ao país, com gestões mais responsáveis no futuro, reencontrar-se com a normalidade.
Após a redemocratização, o Brasil avançou com a estabilização da economia alcançada a partir do Plano Real; com o rigor no trato das contas públicas possibilitado pela Lei de Responsabilidade Fiscal; e no resgate da dívida social por meio da rede de proteção montada nos últimos 20 anos.
A eleição de Tancredo e a Nova República marcaram o início de uma era de transformações. Em muitos destes momentos da nossa história, as forças comprometidas com o progresso do Brasil se uniram em prol dos brasileiros. Em praticamente todas estas ocasiões, o PT recusou-se a participar: sempre que teve que escolher, o PT ficou com o PT.
A data de hoje é importante para reforçarmos o compromisso intransigente com a democracia e com seus valores mais caros: a liberdade de manifestação e expressão, a promoção dos direitos civis, o respeito ao interesse público e a igualdade de oportunidades. Infelizmente, muitos destes preceitos tornaram-se letra morta nos últimos anos.