Sólida como o La Moneda, a socialista Michelle Bachelet, uma pediatra de 62 anos, que ocupa pela segunda vez a sede do poder chileno a partir de março, padeceu na ditadura de Augusto Pinochet: foi presa, torturada, teve o pai assassinado e amagou o exílio. Mas não cultivou mágoas e o sentimento de revanchismo. Eleita pela primeira vez em 2006, Bachelet governou de forma democrática. Fez uma pausa de quatro anos. Lá não existe reeleição. Deu certo ou não, tem que passar a cadeira para outro.
O povo chileno aprovou a passagem de Bachelet pelo La Moneda, tanto que ela foi reconduzida, neste domingo, com 62% dos votos, para mais quatro anos de mandato. A segunda colocada, Evelyn Matthei, foi amiga de infância da nova presidente. Os pais eram oficias da Aeronáutica antes de defenderam trincheiras diferentes na ditadura. O pai de Bachelet foi morto pelo regime militar. O de Matthei se tornou um dos principais colaboradores de Pinochet.
Duas mulheres, histórias cruzadas, caminhos separados, ideologias contrárias: uma de esquerda a outra de direita. Mas ambas mostraram durante a campanha bastante civilizada que a política não é uma questão de gênero. Necessita de preparo, competência e disposição para o diálogo com as forças de oposição. Saber lidar com as frustações que a vida pública impõe.
Michele Bachelet terá uma árdua tarefa pela frente. Apesar de o Chile ter o modelo econômico mais bem sucedido da América Latina. A própria candidata eleita lista as urgências: reformas profundas na educação, tributos e na Constituição.
Outra missão: resgatar o interesse dos chilenos pela política. Na eleição desse domingo, menos de 50% dos eleitores compareceram às urnas, segundo a justiça eleitoral. O voto não é obrigatório no Chile. Fico pensando: não fossem mulheres, as duas concorrentes, a abstenção não teria sido maior?
A vitória de Michelle Bachelet é uma prova cabal de que o empoderamento das mulheres não é uma utupoia. É uma necessidade.
Solange Jurema
Presidente do PSDB-Mulher