Mas por que comecei com todo esse discurso? Simples. Quero chegar a algo que tem sido dito sobre a polêmica questão das cotas raciais. Ouço muita gente dizer que no Brasil a coisa mais difícil é determinar a raça de alguém. De fato. Dizem, então, que para conseguir as cotas os brancos podem, numa boa, se declarar negros também. E é sobre isso que quero falar. Até um tempo atrás o pior xingamento era chamar alguém de negro. Se hoje há brancos que querem se declarar negros, mesmo que por uma conveniência, isso, por um certo prisma, é até bom. Mostra que, nos dias de hoje, há também vantagens em ser negro. Sabemos, hoje, que a divisão do mundo entre longitudes ocidentais e orientais dar-se exatamente em Greenwich, um observatório na Grande Londres, se deve ao fato de terem os ingleses dominado quase
todo o mundo. Sabemos também que a raça humana se originou entre o Quênia e a Tanzânia e que, houvessem quenianos e tanzanianos dominado o mundo, talvez o Meridiano de Greenwich fosse Meridiano do Kilimanjaro, de Dar Es Salaam, de Zanzibar ou de Nairóbi, e quenianos jamais seriam confundidos com tanzanianos ou congoleses, assim como os ingleses não são confundidos com franceses ou tchecos. Que as pessoas saibam que somos todos afro-descendentes. Todos os seres humanos. Que tentem pleitear a afro-descendência. Não vejo inconveniente nenhum nisso. Será ótimo um mundo em que brancos pleiteiem sua condição negra. Em que mulatos se declarem negros, e o censo do IBGE pare com as distorções branqueadoras que sempre costumou haver. Ótimo. Sinal de que a humanidade está mais sensata e menos preconceituosa. É uma luz no fim do túnel, uma pequena mostra do que será a humanidade futura, quando estivermos num estágio muito mais avançado em que poderemos compreender que a alma de fato não tem cor, que a pigmentação de pele muda conforme o ser humano migra entre regiões de clima diferente, que ao fim e ao cabo brancos, negros, amarelos vieram todos de uma mesma gente e as etnias não têm nenhum limite rígido, e muito provavelmente a maioria da população terrestre é de raça indefinida, mesclada, como brasileiros, mexicanos, russos siberianos, cazaques, indianos, afegãos, sauditas, egípcios ou etíopes. Mas isso é um cenário futuro, que será bem melhor do que hoje, assim como o mundo de hoje já é melhor e mais lúcido do que o mundo de Monteiro Lobato. Hoje o que temos em mãos são instrumentos, mesmo que ainda não perfeitos, que nos permitem mitigar o problema do racismo. E as cotas são um desses instrumentos. É inegável, mesmo para quem se opõe a elas, que todos temos séculos de dívida para com os negros devido ao seu passado escravo. Temos que resolver isso de algum modo. É óbvio que distorções aparecerão. Por outro lado é também óbvio que se a Xuxa viesse pleitear para si uma cota por ser negra isso lhe seria negado. Por enquanto temos de usar essas ferramentas que temos em mãos, ainda que não perfeitas, tentando aprimorá-las ao máximo. E lutar para que a referida sociedade mais madura, em que ser branco, preto, amarelo ou azul com bolinhas cor de rosa (hehehe) será algo completamente irrelevante, chegue o mais cedo possível.
Amigas e amigos, isso era o que eu tinha a dizer. Forte abraço a todos e um bom dia da Consciência Negra.
Coordenadora de Eventos do Secretariado Municipal de Mulheres PSDB-SP.