É o ponto divisório entre o campo de futebol e a Escola de Ensino Fundamental XV de Novembro. Na escola funciona a turma do Projeto Projovem Campo- Saberes da Terra, no qual sou educadora na área de Ciências Humanas.
Foi nessa comunidade que descobri a importância de conhecer, conviver e trabalhar com uma comunidade quilombola. Foi sentada nas raízes da mangueira após as aulas, onde eu ficava conversando com meus educandos, ouvindo os sonhos de cada um, que percebi a importância de trabalhar a valorização humana, cidadã daquela gente cheia de sonhos e com uma história cheia de mistérios.
São muitas interrogações, e a construção de um vilarejo numa localidade de tão grande altitude é uma delas. Nessa comunidade, os quilombolas cultivaram a terra, semearam e a ceifaram por muitos anos. As plantações de bananeiras, o cultivo de frutas não são os únicos responsáveis pela geração de renda da localidade.
De repente é descoberto um passado adormecido e desconhecido dos atuais nativos. É descoberto um cemitério arqueológico e que hoje é motivo de orgulho, e atrativo turístico, trazendo gente não só de vários recantos do país, mas também de países africanos. Entre 2010 e 2013 a comunidade trabalhou com afinco, superando as dificuldades, envolvendo autoridades, e conseguiram inaugurar um museu comunitário, onde foi resgatado um grande acervo indígena.
A inauguração do Museu ocorreu no dia 25 de setembro de 2013 com a presença de várias autoridades, abrindo um novo ciclo na comunidade, que além de ser quilombola também é indígena. Através desse Museu a comunidade vai poder conhecer o passado no qual viveram os povos que a precedeu, um verdadeiro espelho que oferece o entendimento de uma história encoberta pelo tempo.
Posso dizer que a Serra do Evaristo não é apenas uma comunidade quilombola é também indígena, e símbolo da resistência de um povo que sobrevive a seca, a falta de oportunidades, mas que mesmo com todas as dificuldades permanece fiel as suas origens. Aqui os jovens dançam capoeira, dançam o São Gonçalo para agradecer as bênçãos, pagar promessas, preservando os ensinamentos dos antepassados.
Trabalhar com a comunidade quilombola do Evaristo é mais do que prazeroso é realizador no contexto histórico no qual sou professora de elevação de um grupo de mulheres quilombolas que pararam de estudar e só agora retornam a escola em busca do conhecimento e da possibilidade de permanecerem na terra, e formarem seus filhos na própria comunidade, a fim de que sejam os futuros professores, doutores, administradores que iram dá continuidade a sua história sem saírem da comunidade. Esse é o objetivo de todos nós educadores do campo, que a educação seja para o campo e não do campo.
Pedagoga, educadora do Projovem Campo – Saberes da Terra, em Baturité (CE)