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A quem interessa?, por Lêda Tâmega

Leda Tamega Foto George GianniMuita coisa está ficando clara a respeito da violência e do vandalismo que tomaram conta das manifestações de rua em todo o país. Os mascarados vestidos de negro, integrantes do grupo Black Bloc, que se dizem anarquistas, infiltraram-se nos primeiros movimentos de junho e lideraram as depredações ao patrimônio público e ao que consideravam símbolos do capitalismo, no que foram seguidos por grupos diversos, seja por afinidade ideológica, seja por afinidade delituosa, ou mesmo por oportunismo, vislumbrando ali a situação ideal para extravasar o ódio contra adversários políticos.

Nesse caldeirão destacam-se facilmente: anarquistas dispostos a contestar o Estado e a ordem vigente, delinquentes e marginais com ou sem passagem pela polícia e ainda grupos político-partidários agindo para confundir e desqualificar as justas reivindicações da população insatisfeita com a péssima qualidade dos serviços públicos, a corrupção que graça impunemente nas instituições republicanas, a deterioração da infraestrutura do país, que afeta diversos setores, e as críticas condições da mobilidade urbana. Mas, a legítima indignação popular, que essa onda de violência busca ocultar, é atiçada por outras graves evidências da incapacidade do PT de comandar e administrar o patrimônio público, patenteadas na situação de atraso crônico em que se encontram, país afora, obras cruciais para destravar desenvolvimentos regionais, mas cuja execução foi suspensa ou continua em ritmo de faz de conta, como acontece com a transposição do São Francisco, a construção das ferrovias Norte-Sul, Oeste-Leste e Transnordestina, a Refinaria Abreu Lima, além da instalação de linhas de transmissão para usinas hidrelétricas já prontas.

E, diga-se de passagem, esse quadro, como afirma José Serra, não se deve propriamente à falta de recursos, mas é um retrato fiel da incapacidade dos governos do PT de investir corretamente, de fazer as ideias saírem do papel e transformarem-se em benefícios para a sociedade e em desenvolvimento para o país:

“Parece paradoxal, mas o fraco desempenho dos investimentos públicos se deve à inépcia, não à escassez de recursos. O teto dos investimentos federais pode até ser 0baixo, e é, mas o governo não conseguiu atingi-lo. A falta de projetos, de planejamento, de gestão e de prioridades é o fator dominante.” (*)

A impressão que se tem é de que a engrenagem administrativa central do Brasil vem resfolegando, arrastando-se e está prestes a exalar seus últimos suspiros antes de encalhar de chofre, como uma velha locomotiva enferrujada.

Tudo isso está aí, claro como o dia, exposto à luz das mentes e corações dos brasileiros, mas só uma parte da sociedade é capaz de enxergar e de perceber, em meio à avassaladora maré de propaganda com que o governo, ao se valer da malversação dos recursos públicos, do desprezo pelo contribuinte e do abandono de todo e qualquer resquício de princípios éticos e morais, procura criar um mundo de fantasia, grotescamente cínico e tão imoral quanto a disposição de seus autores de ganhar o jogo político por meio da trapaça.

Trapaça, embuste! Esse é também o artifício que usam os tais baderneiros, black blocs, delinquentes, ativistas partidários, muitos deles com bandeiras e camisas vermelhas, levando faixas e exigências totalmente alheias às reivindicações dos milhões reunidos nas ruas em junho e muitas vezes tomando posições de interesse do governo federal, como o ataque aos tucanos (Fora Alckmin!). Coberta pelo anonimato e pronta para a guerra, essa gente tenta amedrontar os cidadãos de bem, impedindo-os de expressar livremente suas ideias e sua indignação contra o estado de coisas vigentes no país, com o propósito de esvaziar os movimentos pela cidadania e desviar a atenção dos graves problemas para os quais chamam a atenção.

Agora cabe a pergunta: Quem ganha com essa adulteração do cenário das manifestações que ocuparam as cidades brasileiras no mês de junho e que foram enxotadas das ruas pela barbárie mascarada? E não me venham dizer que a culpa foi da polícia, que agiu com truculência e não soube separar o joio do trigo. Sim, concordo, houve excessos dos homens de farda, excessos esses que devem ser apurados e punidos, mas – todos vimos nos vídeos exibidos na TV – a gangue mascarada agia com violência e brutalidade animalesca, apedrejando, derrubando, incendiando o que encontrava pela frente. Desacatando, provocando e agredindo os policiais, lançando coquetéis molotov, brandindo facas, barras de ferro e outros artefatos perigosos, realizando o que os Black Blocs entendem ser “violência simbólica”, ou seja, ao atacar uma concessionária de automóveis estariam consumando uma “ação direta” de destruição do capitalismo.

Vale a pena destacar o seguinte trecho do artigo que Demétrio Magnoli escreveu para o Estadão, em agosto passado:

“O grupo de anarquistas mascarados que tem vandalizado a capital paulista se autodenomina “Black Bloc” e começou a agir à margem da onda de protestos que sacudiu o país em junho. Quando as passeatas perderam fôlego, passou a organizar seus próprios quebra-quebras pelas redes sociais…. Em geral, os padrões são idênticos e terminam com um rastro de destruição de estabelecimentos comerciais e do patrimônio público. Os mascarados bradam contra os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). Também cobram informação sobre o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, na Favela da Rocinha, no Rio.”

Notem que, aqui, a fúria contra o capitalismo transmudou-se em fúria contra dirigentes políticos, adversários do PT (ou será que Sérgio Cabral ainda é amigão?). Na verdade, esses Black Blocs de araque têm algumas características que nos fazem desconfiar de quem são seus verdadeiros mentores, ou melhor, a que comando obedecem. Reparem:

Perfil – Apesar da presença de menores de idade, a ampla maioria dos encapuzados é composta por jovens na faixa dos 20 anos, estudantes universitários de cursos como História e Ciências Sociais – da pública USP às particulares PUC, FMU e FAAP. Soão brancos e de classe média, com alguma familiaridade com pensadores da esquerda política – a lista de detidos inclui um professor universitário. (**)

Pois é, ao tentar montar esse quebra-cabeças, cheguei à conclusão de que o futuro das autênticas mobilizações populares pela adoção de mudanças radicais na gestão pública e voltadas aos interesses maiores da população brasileira está seriamente ameaçado de desmanchar-se no ar, em benefício único e exclusivo do status quo, já que, sem dúvida, é incompatível com o grande projeto, chancelado no Foro de São Paulo, de perpetuação no poder da organização criminosa que, há 10 anos, detém o comando em nosso país.

Não passarão!

Os milhões de brasileiros que saíram às ruas deram o recado:

“Basta! Não aceitamos mais a forma como o Brasil está sendo governado. Queremos mudança já!”

Está nas mãos de brasileiras e brasileiros decentes a formação de uma ampla frente para impedir que esse plano maquiavélico continue a avançar inexoravelmente sem que uma reação firme, enérgica e – por que não dizer? – radical seja montada para sustar as artimanhas que todos os dias são criadas, com o fito de ludibriar a população, de amedrontar, tentar calar, neutralizar a oposição, cuja voz – é preciso que se diga – tem estado suave demais, comportada demais, quando a hora é de gritar, vociferar, denunciar os falsos brilhos, desnudar as promessas vãs e desmascarar a cascata dos “milhões”, dos “bilhões”, que enfeitam as falas eleitoreiras da ocupante do Palácio do Planalto.

Segunda Secretária do PSDB-Mulher

(*) Se é assim, governo pra quê? Por José Serra
O Estado de S.Paulo – 22 de agosto de 2013 | 2h 14

(**) Nas franjas do Black Bloc Por Demétrio Magnnoli
O Estado de S.Paulo – 15 de agosto de 2013 | 2h 46

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