No episódio da não cassação do deputado – condenado pelo Supremo Tribunal Federal a mais de 13 anos de prisão por peculato e formação de quadrilha – a indignação tomou conta das redes sociais, das conversas privadas e da grande imprensa.
Provavelmente, esse episódio foi o maior dano à imagem do Parlamento na história brasileira.
Dos 513 deputados da Câmara, 104 não votaram na sessão que livrou da cassação Donadon. Dos 104 que não votaram, 50 estiveram no plenário, mas optaram por não participar da decisão. Na sessão, apenas 233 votaram a favor da cassação, 24 a menos que o necessário para a perda do mandato. Outros 131 votaram contra e 41, embora presentes, se abstiveram. Para a cassação, eram necessários pelo menos 257 votos. A votação foi secreta.
Nem é preciso perguntar se o resultado seria o mesmo caso o voto fosse aberto e cada um dos deputados tivesse de mostrar a cara ao declarar seu posicionamento. A resposta é o óbvio ululante, como dizia o saudoso cronista, escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues.
Óbvio ululante também é que daqui para frente, com a aprovação unânime do fim do voto secreto – a medida, se aprovada pelo Senado, valerá não só para Câmara e Senado, mas também para Assembleias Legislativas dos Estados e Câmaras municipais – vai mudar e muito o jeito de se fazer política neste País.
O político duas caras, com discurso diferente da ação, vai pagar um preço bem alto nas urnas: a não reeleição. Provavelmente o melhor remédio para a cura da surdez voluntária e da cara de pau será ouvir de verdade a voz das ruas que pede ética, compromisso com a população e transparência.
E rápido. O próximo 7 de setembro, sábado, pode ser um marco das manifestações da história brasileira.
Cristina Lopes Afonso é vereadora (PSDB) em Goiânia, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania
publicado no jornal O Popular, nesta quinta-feira (5/9)