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“O exemplo que vem do alto”, artigo de Thelma de Oliveira

Thelma-de-Oliveira-Foto-George-Gianni-PSDB-300x199O país e o mundo ficaram “atônitos” com as imagens do carro do Papa Francisco parado e cercado por populares na Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, depois de entrar em um engarrafamento provocado por sua passagem pelas ruas da cidade.

No mesmo dia, jornais de todos os recantos do mundo e especialistas condenaram o fato, inclusive com críticas ao Santo Padre, que manteve a janela do carro aberta, tocando as mãos das pessoas, sem qualquer constrangimento ou receio de ser agredido.

No dia seguinte, a surpresa geral: o carro era o mesmo, a janela aberta era a mesma e o homem era o mesmo, dando um recado a todos: à sua segurança, ao mundo e aos milhares de fieis, espalhados pelas ruas do Rio de Janeiro ou ligados nos aparelhos de televisão ou na internet: “O meu papado será assim, a minha postura será essa, em resumo.”

Um suposto erro de segurança e a postura do Papa Francisco revelam um ensinamento crucial dele para todos nós políticos brasileiros: não podemos ter medo do contato com o povo, da relação direta, pessoal, com aqueles que nós representamos ou queremos representar.

Papa da Companhia de Jesus, ele dá contínuos exemplos do que pretende fazer em seu papado e à sua própria figura do descendente de Pedro: simplicidade, austeridade e os olhos voltados para os mais necessitados.

Aliás, na eleição de seu antecessor já dera um exemplo incomum, renunciando à candidatura em favor do seu concorrente direto, o alemão Joseph Ratzinger, a quem até hoje reverencia como papa.

Em sua primeira viagem como Papa, Francisco desceu em terras brasileiras colecionando exemplos que começaram com a dispensa de um avião oficial, sem cama.

É simbólica a imagem dele entrando no avião de carreira da Alitalia, como o último passageiro a embarcar, carregando a sua própria maleta, sem qualquer assessor por perto. A imagem dele subindo na aeronave percorreu o mundo.

No Brasil, sua mensagem é a de que os jovens – e todos nós – não podem se deixar enganar por fascínios de falsos ídolos “que se colocam no lugar de Deus e parecem dar segurança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer”, todos ídolos passageiros. E especialmente àqueles que acreditaram nas facilidades do prazer, pelo uso de drogas que levam a um caminho sem volta para a maioria dos dependentes químicos.

Não esqueceu de um tema caro aos brasileiros e seus governantes: a corrupção de algumas pessoas que se beneficiam aos invés de agir em prol da sociedade. “Nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança”, recomendou, reafirmando a crença de que a realidade pode mudar, o homem pode mudar.

Por sua vontade, também fez questão de visitar uma favela no Rio de Janeiro, a comunidade de Varginha, conhecida como “Faixa de Gaza” tal o teor de violência, e se aproximar, ainda mais, daqueles que no Brasil ainda vivem com péssimas condições de qualidade de vida – alguns sem a infraestrutura básica.

Certamente relembrou seu trabalho franciscano na província de Buenos Aires, em favelas formadas por imigrantes latino-americanos, como nossas favelas são formadas por nortistas e nordestinos em busca de uma vida melhor.

A curta estadia do Papa Francisco está, portanto, repleta de exemplos para o povo e especialmente para políticos que se deixam iludir por falsos profetas que se consideram “Deus” e que se encantam com o Poder e seus jatinhos.

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