Por Ana Luiza Archer*
O Plano Real está completando 19 anos. Nossa moeda finalmente se estabilizou.
O tempo voa, mas o que passamos nos anos que precederam este plano é inesquecível: enfrentamos a maior ameaça econômica de todos os tempos, a hiperinflação. Ela chegara a patamares inimagináveis. Não havia mais referências de preços, não se sabia quanto custava a feira, por exemplo, e a cada dia os produtos tinham um preço novo. Nosso poder de compra era corroído diariamente e qualquer investimento ou plano de longo prazo estava inviabilizado, pois era impossível estimar despesas futuras. Os mais prejudicados eram os mais pobres, pois não tinham como se proteger. A população estava desnorteada e desanimada.
Foi quando surgiu o primeiro plano, o Cruzado, que basicamente congelava os preços. A adesão foi imediata e tão entusiasmada que, voluntariamente, entre a população surgiram vários fiscais de preços, que se diziam “fiscais do Sarney”. Na TV, por exemplo, todos assistimos a um momento emblemático em que um senhor fechou um supermercado infrator em nome do povo. O otimismo imperava. Ainda assim, infelizmente, depois de uma euforia de autoconfiança e consumo, ao longo do tempo começaram a faltar produtos no mercado. Era o ano de 1986, e eu estava grávida da minha primeira filha. Após o seu nascimento, enquanto eu a acalentava era inevitável não ter relances de preocupação com as fraldas descartáveis que haviam sumido das farmácias. Felizmente, a família e os amigos ajudavam. Sempre que viam fraldas à venda, compravam para nos “presentear”.
O Plano Collor e seu traumático confisco aconteceram às vésperas do nascimento do meu segundo filho. A eminência do parto era um momento de natural ansiedade que, por óbvio, se potencializou. E se surgisse algum imprevisto, como faríamos sem o dinheiro das nossas reservas que havia sido confiscado?
Este plano também não teve êxito e assim como em tantos outros mal sucedidos – Cruzado, Bresser, Verão, Collor – a inflação continuava descontrolada fomentando grande desalento na população, prejuízos e, sobretudo, uma distribuição de renda as avessas. Muitos dos mais pobres sequer tinham conta bancaria e, portanto, qualquer defesa contra a inflação: overnight, nem pensar. Era uma situação insustentável. Uma moeda estável era o nosso desejo, e necessidade.
Depois de tantas derrotas, precisávamos e queríamos reiniciar outra vez – havíamos aprendido muito.
Em 1993, Fernando Henrique Cardoso era ministro da Fazenda e delegou a um grupo de economistas da PUC a tarefa de elaboração de um plano derradeiro de combate à inflação e estabilização da moeda. Em 1994, o Plano Real foi apresentado à população. O processo de transição através da URV foi muito inteligente e não havia tabelamentos arbitrários de preços, congelamentos ou confiscos o que foi bem assimilado pela sociedade. Aprendemos que inflação não se combate apenas com decretos.
“O Brasil não é para principiantes”, já disse Tom Jobim. É preciso preparo. E muito.
Felizmente, o plano foi bem sucedido e continuamos a colher os seus frutos até hoje, 19 anos depois. E que assim seja. Que a inflação nunca mais volte a nos atormentar.
Parabéns ao Plano Real.
*Engenheira