Os protestos não são mais apenas contra o aumento das tarifas de um transporte que deixa a desejar, mas contra a violência urbana, os custos abusivos da Copa do Mundo, a precariedade do serviço público, a falta de acessibilidade, o sistema de saúde falho, o direito à educação que é tolhido de tantos brasileiros e, em muitos casos, o próprio direito à dignidade. A iniciativa desse movimento merece todo o nosso apoio.
A última grande manifestação popular ocorreu há 21 anos, organizada por partidos políticos, quando os caras-pintadas foram às ruas para pedir o impeachment do ex-presidente Fernando Collor. Nessa época, a maioria dos jovens que hoje estão nas ruas ainda não era nascida, ou apenas dava seus primeiros passos. Diferentemente daquela época, a juventude, hoje, promove uma manifestação sem ideologia partidária, que não tem uma pessoa ou alvo específico, e é a favor de todos os brasileiros.
Não se trata “apenas” de centenas de milhares de pessoas nas ruas. O brasileiro está mostrando que não está satisfeito. Que o Brasil precisa mudar. Que o modo de fazer política precisa mudar. Chega de políticos que só se preocupam com o poder, com a autopromoção, com satisfazer suas próprias necessidades. Até hoje, em todas essas décadas, não ouviram a população. Agora, a população se faz ser ouvida, na marra. E nossos governantes têm a obrigação de parar para ouvir esse coro de vozes.
Os representantes do povo brasileiro precisam aprender a ouvir a sociedade. A democracia é, pelo menos na teoria, um regime de governo em que o poder de tomar as decisões está com os cidadãos, ainda que através dos representantes por eles eleitos. Não há melhor forma de se trabalhar pelas pessoas do que ouvindo delas mesmas suas necessidades e anseios mais gritantes. A quem governa, cabe respeitar, ouvir e agir pelo povo – e não contra ele. Esse é o primeiro passo para que as mudanças que todos esperamos comecem a acontecer.