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“Petrobras, ‘desprivatizar’ já”, artigo de Ramalho da Construção

* Do deputado estadual (PSDB-SP) e presidente nacional do Núcleo Sindical do PSDB

 

Considero um profundo equívoco quando se afirma que todos os partidos políticos são farinha do mesmo saco. Nós não somos. Por nossas práticas já demonstramos, por exemplo, que temos a Democracia como fim e não como meio para se chegar ao poder e lá permanecer.

Nosso futuro candidato à presidência da República, senador Aécio Neves, em recente pronunciamento, apontou os 13 principais fracassos do governo federal e de seu partido nos últimos dez anos. Afirmou que não foi uma fácil escolha.

Entre os 13 itens selecionados por Aécio Neves destaco o chamado “pibinho”, a falta de investimentos em infraestrutura, com a consequente paralisia do programa de aceleração do crescimento, o risco do apagão, o sucateamento da indústria, a inflação, a destruição do patrimônio nacional, o desmonte das estatais, a derrocada da Petrobras e os desvios éticos, tão bem representados pelo escândalo do mensalão.

Como líder sindical me preocupa, sobremaneira, a situação da Petrobras, uma empresa estratégica cujos movimentos, por menores que sejam, repercutem imediatamente no conjunto da economia brasileira, interferindo diretamente na vida dos trabalhadores.

Durante o Governo de Fernando Henrique houve uma forte profissionalização da Petrobras, mas essa tendência foi descontinuada nos últimos dez anos. Quadros políticos petistas, provenientes da Petrobras, mas que não possuíam experiência de alta gestão, passaram a ocupar postos chaves na administração da empresa, muitos, inclusive, estavam afastados da rotina de trabalho há anos, alocados nos sindicatos da categoria e longe das atividades gerenciais e operacionais.

Ao contrário da administração de FHC, durante o governo petista o que define a ocupação de um cargo de direção não é a competência, mas o fato do indicado ter ou não uma estrela vermelha no peito. A opção política, em detrimento da competência técnica, pode ser percebida até na nomeação dos presidentes, como foi o caso de José Dutra e Sergio Gabrielli.

Tal situação reverte-se, um pouco, no inicio de 2012 com a nomeação de Graça Foster para o comando da empresa. Funcionária de carreira, aos poucos começa a tentar voltar aos tempos em que os negócios eram decididos tecnicamente e sem nenhuma influencia partidária ou ideológica.

Entretanto, até agora não se percebem mudanças fundamentais no estilo da Petrobras. Pouco tempo talvez, para as coisas acontecerem, ou será mais uma das típicas estratégias de “reformar” para não mudar. Importante salientar alguns números para se conhecer a quantas anda a saúde da Petrobras. Por exemplo, em seus planos estratégicos quinquenais estima que o crescimento da produção seria acima de 5% ao ano. Entretanto, entre 2003 e 2012 cresceu na faixa de 2,4%, resultado absolutamente inexpressivo principalmente quando se considera que teve que investir 100 bilhões de reais na exploração e produção de petróleo.

Esse quadro é muito mais grave do que se pode perceber, uma vez que esse investimento não foi feito com recursos da própria empresa, mas através de financiamento que se foi buscar no mercado o que, obviamente, resultou em um maior endividamento. Como trabalhador e líder sindical aprendi o quanto é importante a gestão de um orçamento, seja de uma família, de uma empresa ou de um sindicato. Ainda mais quando se trata de um empreendimento estratégico para toda a economia nacional.

Para se ter uma ideia, a dívida liquida da Petrobras em 2007 era de 26,7 bilhões de reais. Em cinco anos, aumentou 400%, ou seja, no final de 2012 saltou para 130 bilhões de reais. Perceba: a produção da petrolífera cresce como rabo de cavalo, para baixo, enquanto seu endividamento corre para cima. Comparada aos concorrentes internacionais a rentabilidade da Petrobras no último ano ficou significativamente abaixo da média. Por outro lado, o desempenho dos seus papéis na Bolsa é medíocre. Por exemplo, a Ambev, fabricante de bebidas, no final de 2012 superou a Petrobras em valor de mercado. Dá para entender.

No final de 2012 a petrolífera anunciou que perdeu 1.35 bilhões de reais em função do câmbio e da contenção política do preço do combustível mas, como uma empresa do porte de uma Petrobras pode chegar a essa situação. De fato, o que se esconde atrás desses resultados? O PSDB várias vezes denunciou a prática de uma gestão temerária por parte dos dirigentes da Petrobras, de acordo com a orientação do Palácio do Planalto e do PT.

A imprensa nacional inúmeras vezes mostrou que os resultados negativos eram fruto direto da má gestão da coisa pública e do uso partidário de uma empresa que no passado recente se destacou por sua eficiência e produtividade. Difícil compreender que as ações da Petrobras perderam 45% de seu valor desde 2008 e a produção a partir de 2009 estagnou em 2 milhões de barris/dia de petróleo, ou que em 2012 o prejuízo na área de refino foi de 8 bilhões de dólares. Na verdade, estão fazendo com a nossa Petrobras, o que Chávez na Venezuela fez com a PDVSA, ou seja, um aparelhamento político, e um desvio de finalidade. No país vizinho a estatal petrolífera já chegou ao ponto de comprar arroz, feijão e óleo de soja para que o governo distribua as cestas voto para a população. Aqui não tardará a acontecer o mesmo se não reagirmos.

Vários outros números podem jogar mais luzes para se entender toda essa calamidade, mas creio que estes já são suficientes para mostrar que a estatal do petróleo foi privatizada nas mãos de um grupo que opera dentro de um partido político. Que esse grupo, inclusive, trabalha com a hipótese de permanecer indefinidamente no poder, usando a Democracia como meio e a Petrobras como caixa. Pior ainda, traçou uma política de agrados sociais aos trabalhadores e as classes médias e que consiste em vender carros a perder de vista, ao mesmo tempo em que subsidia o combustível, mesmo que isso represente o sucateamento da Petrobras. Essa política de falsos afagos sociais no curto prazo representa, de um lado, o endividamento do trabalhador e de sua família e, de outro, em um verdadeiro tsunami urbano e ambiental, que destrói nossas cidades, inclusive as pequenas e médias, que estão cada vez mais tomadas por ondas gigantescas de poluidores veículos.

Por tudo isso, reafirmo a necessidade de se “desprivatizar” a Petrobras, para que ela volte a ser, independente, forte, competitiva e profissional, deixando de ser uma agência de publicidade a serviço de alguns para dedicar-se, majoritariamente, ao seu negocio de extrair e vender petróleo.

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