Por Nancy Ferruzzi Thame
Longe de querer um mundo da utopia, sabemos que há enorme distância entre o ideal democrático e a realidade cotidiana. Apesar de muitos defeitos, já fizemos e concretizamos um trabalho básico da construção da democracia aqui no Brasil.
Se, de um lado, estamos longe, por exemplo, das rebeliões contra as autocracias do mundo árabe, por outro, também estamos muito longe do céu ou paraíso. Temos muitos defeitos, como o domínio exagerado do poder Executivo sobre o Legislativo.
As questões são complexas e as divergências existem dentro do próprio partido. Daí a necessidade de se discutir, de ter um olhar coletivo para acatar diferentes opiniões e sugestões, de ter a coragem para discutir à exaustão. Não podemos suportar estatutos, diretórios, executivas e ensaios engessados. Não podemos aceitar o: “é assim porque sempre foi” e o pacote que vem pronto. A democracia tem que ser aplicada dentro da própria casa.
Neste sentido, como dizia a nossa saudosa Ruth Cardoso, “não há democracia sem o devido respeito às mulheres”. A garantia da igualdade de gênero no exercício dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, é condição para o desenvolvimento da sociedade. Em um estado democrático de direito, a busca da igualdade de gênero deve estar no foco das prioridades.
Se o centro das decisões está na política, como garantir a participação efetiva das mulheres se não estivermos presentes nos espaços de decisão partidária?
Estimular e garantir a instituição de uma política interna de cotas nos partidos políticos, principalmente em suas instâncias de direção, é ponto nevrálgico para as discussões.
É muito interessante que no momento em que cresce a aprovação popular ao desempenho das mulheres nas atividades públicas e no qual o eleitorado se manifesta disposto a referendar, no voto, a igualdade de gênero, os partidos políticos não se preocupam com ações para se adaptar a essa nova realidade. Somente discursos não mudam o cenário, é preciso investir nas práticas que dão vida e substância à democracia.
Neste sentido, como disse nossa presidente do PSDB-Mulher Nacional, Thelma de Oliveira, em relação à resolução 1/13 da CEN do PSDB, que trata da participação mínina de 30% de cada um dos gêneros em todos os espaços de decisão partidária, “esta é uma vitória das tucanas, do partido e de todas as mulheres brasileiras”.
A questão não é jurídica, é política e resta saber se no momento em que tanto falamos em oxigenação, em renovação, teremos o espaço merecido. Para que isto ocorra, temos convicção de que lideranças devem ser vistas menos como comandantes heróicos e mais no sentido de alguém que estimula a participação de todos e todas.
Não temos dúvida de que esta é uma parte que nos cabe nesta democracia.
1ª secretária do PSDB-Mulher Nacional